Ele chegou a Maringá quando a cidade ainda era uma vila e distrito de Mandaguari.
Exatamente naquele ano, nasceu a lei que criou o município de Maringá e no ano seguinte a eleição do primeiro prefeito: Inocente Vilanova Junior.
Era um jovem recém-formado e que saiu das Minas Gerais prá conhecer o Norte do Paraná, que tantos brasileiros prá cá trouxe, em busca de novos caminhos, novos rumos, e até de novas aventuras.
Embrenhar-se na mata virgem que ia caindo ao som dos traçadores e dos machados, abrindo caminhos e enormes derrubadas nas férteis terras que a Companhia de Terras Norte do Paraná oferecia em todo o Brasil aos que tinham coragem, desprendimento e vontade de vencer, já era uma aventura.
Ver nascer onde era mato a riqueza do café, um momento sempre empolgante para os que para aqui vieram.
Laércio Nickel Ferreira Lopes veio em companhia de outro dentista, também mineiro e também aventureiro de espírito: Newman da Silva Gomes.
Primeiro aportaram na famosa Londrina, sede da empresa colonizadora e de onde partiam os desbravadores sertão adentro, abrindo cidades sempre obedecendo a um planejamento direcionado e bem feito.
Alguns dias depois resolveram caminhar sertão afora e pararam outros dias em Arapongas.
Ali ouviram falar muito da localização e da fertilidade da terra de Maringá.
Como estavam a fim de conhecer, prá cá embarcaram na jardineira do Garcia e depois de um dia inteiro sacolejando, chegaram à cidade que nascia pujante e onde imperava a alegria.
E os cafezais produziam como nunca se tinha visto, sem adubo e sem nenhum agrotóxico.
Ficaram aqui mesmo.
Cada um montou o seu consultório dentário e passou a atender aos pioneiros.
O Laércio mais afoito, já começou a fazer curso de piloto e em pouco tempo estava voando no avião dos Buenos Neto.
De espírito empreendedor e corporativista, o Dr. Laércio já começou a reunir os poucos profissionais da área na cidade e pregar a necessidade de fundar uma associação da classe.
Demorou um pouco, mas em 1953 nasceu a Associação Maringaense de Odontologia – AMO – entidade hoje muito forte e que tem representado bem os dentistas locais.
Em 1953 Laércio casou-se com uma moça de tradicional e respeitada família em Maringá: Lúcia Moreira da Silva, filha do senhor Napoleão Moreira da Silva, pioneiro que veio para a cidade quando ela nascia realmente, ainda só no Maringá Velho, onde ele montou um comércio que vendia de tudo: a Casa Napoleão.
Lembro-me bem da época em que aqui chegamos: meu pai fazia compras mensalmente, na Casa Napoleão.
O interessante é que tudo o se vendia era anotado numa caderneta, item por item, e quando tinha dinheiro, meu pai ia lá e efetuava o pagamento da sua conta.
Acho que era assim com toda a clientela dele e das dos demais comerciantes da época do Maringá Velho.
Lúcia, professora ensinava as crianças, primeiro no Grupo Escolar do Maringá Velho e depois no do Maringá Novo.
Suas irmãs, Nilza e Cecília também seguiram o mesmo caminho: ensinar aos filhos dos pioneiros que construíam a cidade.
Em 1955 o Dr. Laércio junto com um grupo de pessoas de bem e que estavam interessadas em servir a sua comunidade, fundaram o Lions Clube de Maringá, no dia 16 de abril.
Os fundadores todos já se foram para outra vida. O Laércio, o mais jovem dos fundadores do clube, ainda continua firme e atuante, depois de quase sessenta anos.
Nesse tempo, o Lions atuou decisivamente na cidade de Maringá: fundou a APAE, a ANPR, a Guarda Mirim e o dentista do clube, fazia sua parte: atendia aos carentes em seu consultório sempre em nome do Lions e sem cobrar nada de ninguém.
Quando ingressei no Lions, há 46 anos, o Laércio estava lá: sempre firme e participativo.
Na festa das nações onde o Lions tem uma barraca: a do Pastelão, como os demais companheiros e domadoras, o Laércio e a Lúcia sempre foram atuantes e participativos.
Uma das suas manias é fotografia.
Tem um acervo magnífico da historia da cidade contada através das suas lentes e sempre em ângulos diferentes.
Prá ele é um orgulho enviar anualmente o cartão de natal aos amigos, com uma foto que ele mesmo tirou em algum lugar e de modo a encantar a todos.
Outra paixão são os toca-discos, aquelas eletrolas tocadas a manivela e que rodam discos de vinil.
Além das eletrolas, tem, também, gramofones antigos e que funcionam.
O Dr. Laércio Nickel Ferreira Lopes teve participação decisiva no reconhecimento do corpo de Napoleão Moreira da Silva, que, vereador mais votado naquela legislatura, morreu num desastre aéreo em Rio de Janeiro e São Paulo, prá onde foi em busca de trazer benefícios para a cidade.
Ele conta que, o reconhecimento só foi possível graças ao exame da arcada dentária dos falecidos, eis que, era o dentista do então sogro dele.
Ele sempre tem histórias boas e engraçadas para contar a cada encontro.
Sempre foi um homem alegre e de bem com vida.
Tem cinco filhos e fala deles com carinho, respeito e orgulho.
Na última quinta-feira recebeu o titulo de Cidadão Benemérito de Maringá, outorgado pelo município, numa cerimônia emocionante.
Titulo mais do que merecido pelo que fez e pelo que construiu, participativamente, na cidade que ajudou a crescer.
Laércio Nickel Ferreira Lopes, um bom sujeito.
Dos melhores que conheço e dos mais competentes na profissão que abraçou e aqui se firmou.
Vale a pena ser seu amigo.
BOM DOMINGO A TODOS