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Por que é necessário retornar às aulas presenciais?

Quando as aulas retornam ao presencial, professor?” Ouvi esta pergunta dezenas e dezenas de vezes no ano passado. Quando o ano estava terminando, as pessoas estavam um pouco mais conformadas com a situação; tudo que desejavam era concluir os estudos e tentar aproveitar o período de férias. Entretanto, teoricamente, as férias estão terminando e a questão voltou a apareceu no meu whatsapp e nas redes sociais: “professor, você sabe quando as aulas voltam ao presencial?”. 

Não tenho resposta. Eu gostaria de ter. Gostaria de oferecer alguma expectativa. Infelizmente, não tenho nada para dizer. O Ministério da Educação divulgou, no final do ano passado, uma portaria com a previsão de retorno para o dia 1 de março, mas o documento não assegura que isso, de fato, irá ocorrer. Por isso, retorno ao tema e insisto em algo que já disse noutras ocasiões: os alunos precisam voltar para as salas de aulas. E, no ensino superior, o primeiro dia de março é uma boa data, mas a medida deveria ser respeitada. Entendo a dificuldade nas séries iniciais, ensinos fundamental e médio. Mas, para jovens maiores de 18 anos, não se sustentam as justificativas para manutenção das faculdades e universidades fechadas. 

Vejamos o cenário: a maioria desses jovens trabalha, tem atividades sociais e recreativas etc. Faz tudo isso presencialmente. São raros aqueles que mantêm uma rotina de isolamento social. Mesmo os mais cuidadosos e que atuam em home office, vez ou outra, saem para conversar com amigos, comer alguma coisa ou dar uma volta no shopping. Em Maringá, inclusive, os cinemas estão sendo reabertos. Ou seja, ainda que não seja possível dizer que a vida está normal, ninguém está realmente fechado em casa para evitar a contaminação. 

Na prática, estudar é a única atividade que os jovens não estão realizando presencialmente. 

Por que é necessário retornar às aulas presenciais? Primeiro, porque nem todos os alunos conseguem, de fato, aprender em casa. A aula nas telas, em sistemas de videoconferência e vídeos gravados, não representaria, necessariamente, um prejuízo para o aprendizado. No início da pandemia, defendi e sigo defendendo o modelo. Porém, é fundamental compreender que quem escolhe estudar no sistema presencial quer viver essa experiência e, provavelmente, reconhece que não dá conta de estudar pelo computador, tablet, celular etc. Segundo, nem todos os jovens têm acesso a uma internet banda larga de qualidade (e, no Brasil, isso é comum demais) e outros tantos não possuem equipamentos de qualidade e tampouco um ambiente propício para estudar.  Terceiro, é preciso oferecer perspectiva de retorno ao presencial para quem está saindo do ensino médio. No ano passado, quando houve a interrupção das aulas, todo mundo já tinha escolhido o curso superior, conhecido a instituição, falado com os professores, feito algumas amizades… Mas agora, quem não quer EaD (educação a distância) faz o quê? Escolhe o ensino presencial sem saber quando poderá ir para a faculdade? Isso é insano! 

Se você leu até aqui, me tolere por mais um parágrafo. Poderia seguir argumentando em defesa do retorno às aulas presenciais no ensino superior. Contudo, gostaria apenas de acrescentar um último aspecto: voltar não significa ignorar a pandemia. No Brasil, ninguém está vacinado contra a covid-19. E, mesmo quando estivermos imunizados, os especialistas afirmam que vai demorar um tempo para abraçarmos as pessoas, circularmos sem máscaras etc. Isso significa que o retorno às aulas presenciais, em qualquer cenário, exigirá muitos cuidados: horários diferenciados de início e intervalo das aulas, turmas reduzidas, disponibilidade de conteúdos online (porque não é possível exigir a presença obrigatória do aluno), limpeza rigorosa dos ambientes entre outras medidas – além de fiscalização constante. 

Ainda assim, assegurar aos jovens o retorno das aulas presenciais é oferecer perspectivas futuras, principalmente para aqueles que pretendem ingressar agora no ensino superior. Também trata-se de investir numa formação de qualidade, respeitando a forma de aprender de cada aluno.

Ronaldo Nezo
Foto – Reprodução

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