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Liberdade sem responsabilidade dá nisso: novo lockdown

O Brasil vive o drama do aumento de mortes pela COVID 19. Depois de um período em que imaginávamos que a pandemia iria embora, a quantidade de casos voltou a crescer e, infelizmente, nesta última semana, o país registrou mais de 1,5 mil mortes num único dia. No total, caminhamos para 260 mil pessoas que já perderam a vida, vítimas da doença.

Frente a esse cenário catastrófico, o país segue sem estratégia para conter o vírus. Já está claro que a pandemia só vai acabar quando todas as pessoas estiverem vacinadas. Até lá, o vírus continuará circulando. O problema é que até a vacinação está devagar. E, note, o Brasil tem uma história de eficiência em campanhas de vacinação. Mas até nisso regredimos.

Na prática, a ausência de políticas eficazes tem acentuado o problema.

O Brasil tem sido o país que combate até mesmo as estratégias que ajudariam a minimizar os efeitos do coronavírus. Atacar o uso de máscaras e o distanciamento social, como tem acontecido inclusive por iniciativa do próprio presidente da República, revela a displicência e a insensibilidade de muita gente influente com os efeitos trágicos da doença. Isso acaba por impactar parcela da população que sente-se autorizada a viver como se o vírus não existisse.

E não é por falta de informação. Médicos e pesquisadores são ouvidos pela imprensa todos os dias. As informações também estão nas redes sociais. Todos sabem que evitar aglomerações impede a transmissão do vírus. Todos sabem que espaços públicos favorecem a contaminação, pois uma única pessoa contaminada, ao tocar objetos – uma maçaneta, por exemplo -, pode espalhar o vírus. Todos já ouviram sobre os benefícios da máscara, já que a transmissão pode acontecer por gotículas expelidas ao falar e espirrar. E o contágio quase sempre ocorre quando há contato com o vírus, tocando o nariz, olhos e boca. Por isso, é tão importante lavar as mãos com água e sabão, e sempre usar álcool em gel. Enfim, essas informações estão disponíveis. Pouca gente pode alegar ignorância.

Ou seja, é difícil controlar a propagação? Não. Difícil é enfrentar o fechamento de tudo, o chamado lockdown. Entretanto, quando as pessoas não fazem a parte delas na prevenção, o lockdown se torna necessário para obrigar que o óbvio seja feito: reduzir a circulação do vírus.

Admito que o lockdown me incomoda muito. E me incomoda por que, de maneira disciplinada, tenho me cuidado. Procuro agir de maneira consciente e tento incentivar quem convive comigo a observar até os detalhes. Faço isso porque desejo evitar a doença e, principalmente, não acho justo demandar o sistema de saúde por descuido pessoal. Porém, parece-me que nem todo mundo acha importante se cuidar. Isso acaba tornando o lockdown necessário. Quando somos incompetentes na gestão da liberdade individual, o Estado tem o dever de decidir por nós, porque nossa liberdade não pode comprometer o bem comum. A falta de leitos hospitalares, inclusive de UTI, além do esgotamento das equipes de saúde, obriga o Estado a agir.

Concluo deixando aqui meu apelo: cuide-se, mas cuide também das outras pessoas. Respeitar as medidas de restrição ajuda você e pode dar fôlego ao sistema de saúde, garantindo pelo menos o direito de atendimento médico àqueles que precisarem.

Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras
Doutor em Educação

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