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Autocuidado é essencial para mães sobrecarregadas na pandemia

A pandemia, que para muitos não duraria mais de 40 dias (aquele erro comum com o nome quarentena), já fez aniversário e continua sendo uma dura realidade. O distanciamento e as restrições sociais fizeram as famílias ficarem mais tempo juntas e, na maioria das vezes, no comando das mulheres. Cuidar dos filhos, casa e carreira profissional levou mães ao esgotamento psicológico.

No final de 2020, um estudo do Centro de Pesquisa Econômica e Social da Universidade do Sul da Califórnia mostrou que 32% das mães se sentiam esgotadas; enquanto que entre os homens, pais ou não, o número não passou de 19%. Quando se trata de grupos em situação de vulnerabilidade social e econômica esse número mais que dobra no caso das chefes de família.

“Essas mulheres, que vem conquistando aos poucos seu lugar no mundo do trabalho, ainda que não dignamente remuneradas, têm visto suas vidas sobrecarregadas durante a pandemia devido ao acúmulo de papéis a serem desempenhados dentro de suas casas. Mães, esposas (às vezes as duas coisas), donas de casa, chefes e funcionárias, entre outras atribuições que consomem forças físicas e por vezes mentais. A pandemia além de ter intensificado essa carga de atribuições relacionadas à vida das mulheres mães, têm revelado a fragilidade das relações, a violência crescente contra as mulheres e a desvalorização e subjugação pelo machismo estrutural”, disse Alison Maciel, estudante de psicologia.

Ele lembra sobre o mito do instinto materno, como se fosse algo natural ou instintivo assim que a mulher se descobre gestante; quando na verdade qualquer tipo de amor ou afeto devem ser construídos. Este momento em que o planeta passa é um dos mais complicados para essa criação de sentimentos. Por outro lado, a mãe tem a oportunidade única de mostrar que antes desse título é mulher, profissional e ser humano. É como se as ilusões fossem desfeitas durante essa pandemia, sobrando a realidade, muitas vezes, pesada.

Por conta disso, o olhar para si se tornou ainda mais essencial. Ter e praticar hábitos de autocuidado que não serão iguais para todas, mas igualmente capaz de ajudar no controle do estresse, irritabilidade, na recuperação da depressão, entre outros sintomas pandêmicos já constatados. Para algumas mulheres, cuidar da saúde mental pode ir desde tomar um banho mais demorado, o uso de hidratante no corpo para relaxar, passando por ficar sem fazer nada no sofá, comer besteiras, até iniciar o processo de terapia, seja com sessão presencial ou virtual. Mas cuidado, têm lares que, quando a mãe faz qualquer atividade de autocuidado, isso é chamado de “vale-mamãe”, o que soa bastante machista.

Neurocientistas e psicólogos enumeraram cuidados simples e que são válidos: fazer um “spa em casa”, já que não é recomentado sair sem necessidade; preparar próprio doce favorito; maratonar uma série; praticar exercícios que goste; relaxar tomando um vinho; entre outras ações. Todavia, para que as mamães se recuperem e se tornem melhores para elas mesmas, os filhos, maridos, amigos, todos que estiverem juntos precisam se conscientizar.

“Ao invés de nos distrairmos ludibriados com propagandas e consumo

exacerbado, não seria melhor identificarmos em nós mesmos as sementes destas construções que continuamos a replicar? Não seria de maior proveito reconhecer o sofrimento, dor e desgaste destas mulheres e assumir a responsabilidade por algo que não cabe a somente elas? Não seria mais digno e justo aliar-se a estas mulheres na luta contra estruturas de repressão e recriminação arcaicas que se reproduzem nos tempos atuais? Por que não reconhecer que o amor que estas mães sentem por nós, filhos, é fruto de dores, lutos, perdas e renúncias? Se o fizermos então, poderemos verdadeiramente agradecê-las, sabendo que mais do que só agradecer, estamos fazendo nossa parte para que o dia a dia dessas mulheres seja feliz, e não somente um dia a cada 364″, concluiu Maciel.

Victor Cardoso
Foto – Reprodução

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