Em janeiro desde ano, o presidente Jair Bolsonaro colocou em dúvida a eficácia das duas vacinas autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso emergencial no Brasil: a CoronaVac e a AstraZeneca. Logo em seguida, o Instituto Butantan apresentou que a CoronaVac tem eficácia maior de 50,38% e a AstraZeneca entre 62% e 90% após a aplicação das duas doses. Mesmo com tudo comprovado cientificamente, ainda tem vereador maringaense questionando a proteção oferecida pela CoronaVac. O resultado foi a Câmara Municipal aprovando um pedido para que a Prefeitura libere a testagem sorológica de anticorpos para pessoas imunizadas.
A proposição foi dos vereadores Mário Hossokawa (PP) e Belino Bravin (PSD). A pressão fez o assunto ser votado em regime de urgência especial. No requerimento, os parlamentares perguntam ainda se é possível estas pessoas receberem novamente as doses só que de outra marca de vacina contra a Covid-19 que tenha proteção superior. Importante frisar que estudos apontam que, mesmo com resultado positivo para anticorpos contra a proteína S, é arriscado avaliar se a resposta do sistema foi provocada pela vacina ou pela infecção prévia pelo coronavírus.
Bravin, de 74 anos, tomou as duas doses da CoronaVac. Ele garantiu que vai entrar na justiça para tomar outra vacina caso o exame laboratorial aponte que o organismo não produziu anticorpos. O presidente da Câmara, da mesma idade, também recebeu o mesmo imunizante. Os dois enumeraram pessoas que contraíram Covid-19 e morreram após tomarem a vacina desenvolvida pela farmacêutica Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan. Na lista citaram, por exemplo, Onildo Barile, irmão do vereador Onivaldo Barris (PSL), que morreu 10 dias após a aplicação da segunda dose.
Durante discussão do assunto, o vereador Delegado Luiz Alves (Republicanos) contou que um amigo fez o teste de anticorpos, pagando R$ 250, e o resultado trouxe uma porcentagem diversa de proteção para cada tipo de cepa do novo coronavírus. Num geral, variou entre 78% e 90%. Dessa forma fica claro que os vereadores questionam, na verdade, a efetividade da vacina.
O epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Andrade Lotufo, explica que, além da eficácia, deve-se levar em consideração também a efetividade e a eficiência. Eficácia é o mundo ideal, o desejado. Aqui a substância é analisada em um ambiente controlado. Ela é eficaz quando produz o efeito esperado. Efetividade é o mundo real, com todas as adversidades. Aqui a substância é colocada à prova com um conjunto diverso de pessoas, em suas mais adversas condições. Ela é efetiva quando observada da perspectiva realista. Eficiência está atrelada à relação custo-efetividade.
SERRANA
Agências de vigilância sanitária demonstram que os dados de proteção variam de uma pesquisa para outra, divergindo dos resultados observados nas pesquisas clínicas. A Anvisa liberou o uso no Brasil com a eficácia um pouco acima de 50%. Já na pesquisa feita pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana, onde quase toda a população adulta recebeu as duas doses do imunizante, a Coronavac alcançou efetividade de 80% contra casos sintomáticos. Outro dado importante é que a injeção também preveniu as hospitalizações em 86% dos casos e a morte em 95%. Assim, a efetividade média em pessoas acima de 70 anos foi de 42%. Dos 70 aos 74 anos, foi para 61,8%; entre 75 e 79 anos, 48,9%; e dos 80 anos em diante é de 28%.
Victor Cardoso
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