Início Colunistas Fortia et honorem e o guizo no gato

Fortia et honorem e o guizo no gato

Pesquisando sobre o significado do nome de recente operação do Gaeco, ‘batizada de força e honra’, que levou à prisão de policiais rodoviários estaduais e um empresário de Campo Mourão, encontrei que em latim significa ‘et honorem’ é honra  e que  a palavra força  vem de  latim fortia, que indica capacidade de cumprir uma determinada missão e que pode indicar violência.

Sobre corrupção de servidores públicos,   sou da  opinião que deveria ser tipificado como crime hediondo, todo e qualquer ato praticado por quem é remunerado para combater os atos criminosos, assim como para julgá-los, ou fiscalizá-los. Membros das polícias, do judiciário, das receitas( estaduais e federal), encarregados municipais de arrecadar, enfim, servidores públicos que se envolvessem em atos de corrupção deveriam ser punidos exemplarmente.

Criou-se no Brasil, quase que uma máxima do ‘cafezinho’, ‘da cervejinha’, gorjeta, agora do comissionamento, no casos de compra de vacinas, como se fosse algo normal em se tratando de certas categorias, e a população, alguma vezes, colabora para isso, aceitando o achaque e até oferecendo, ‘o agrado’. Mas é propina mesmo e lembro que em castelhano os tradicionais 10% do garçom são discriminados na nota como propina, que a palavra correta,  talvez daí tenha surgido o  vocábulo que tanto se fala na CPI da Covid-19.

Punição exemplar significa perda da função pública e anos de reflexão na solidão de uma cela, por exemplo. O crime não pode compensar, precisa ser fortemente desestimulado, mas aí chegamos num ponto que me lembra aquela fábula: ‘quem vai colocar o guizo no gato’? Recorro  a um artigo de Augusto Nunes, publicada Revista Veja, edição online  de 30 de julho de 2020, para refletirmos um pouco mais sobre quem vai fiscalizar o fiscal, ou o policial corrupto, por exemplo :

 ‘(…)Na antiga Roma, pontificava um juiz corrupto e ladrão. Ele se chamava Lucius Antonius Rufus Appius. (..) Esse juiz fazia no tempo dos césares, na distante Roma, o que vários juízes são acusados de fazer ainda hoje no Brasil. Ele vendia suas sentenças, assinando-as com as letras iniciais dos três primeiros nomes , mantendo inteiro apenas o último nome. Ficava assim: L. A. R. Appius, que todos liam larapius.

Quando veio para o Latim vulgar, a palavra passou a designar o ladrão. E com este significado chegou ao português larápio. É o que reza a lenda etimológica. “Se non è vero, è bene trovato” ((se não é verdadeiro, é bem achado), como diz o provérbio italiano.

Há outras curiosidades acerca das palavras que designam o ladrão. Uma das mais comuns é gatuno, palavra que veio de gato, uma tremenda injustiça com o bichano, um dos mais queridos animais de estimação. O gato não rouba, ele confisca o que precisa para o seu sustento. Quem tem gatos em casa, sabe bem quem é que manda. Não são os donos dos animais. Ao contrário, quem manda nos donos são os gatos.

Ulysses Guimarães, presidente da Câmara dos Deputados quando foi promulgada a atual Constituição, sempre citava a célebre fábula de Jean de La Fontaine ao tomar conhecimento de projetos de difícil execução.Ele perguntava aos parlamentares: e quem vai pôr o guizo no pescoço do gato?

La Fontaine conta que os ratos decidiram em assembleia pôr um guizo no pescoço do gato, o eterno inimigo. Assim, quando ele se aproximasse, eles fugiriam a tempo de não serem pegos.

Um rato velho, calado durante toda discussão do projeto, endossou o plano, mas fez uma pergunta que se tornou famosa: quem vai pôr o guizo no pescoço do gato?

Pois é, a fábula é do século XVII. Mas nunca foi tão atual. O que pode ter mudado é que hoje é preciso pôr guizo no pescoço de uma multidão de ratos. E os gatos são poucos. Eles não são larápios, mas talvez pudessem agir mais rapidamente’.

E para finalizar, complemento dizendo  que não podemos perder a esperança de um dia teremos todos os policiais rodoviários atuando efetivamente com força e honra, assim como não teremos juízes ‘vendedores de sentenças’, nem  fiscais que recebam percentual de impostos e o ‘embolse’, enfim que não tenhamos mais tanta corrupção e os  corruptos, se apanhados, sejam ‘fortemente punidos’, que força e honra não seja só uma expressão julgar, usada em campanhas e para denominar certas operações, que não mais teremos.

Akino Maringá, colaborador
Foto – Reprodução

COMPARTILHE: