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A felicidade e a vida virtuosa

A felicidade é um estado de espírito. Buscamos a felicidade. Mas esta nem sempre é um bem que se alcança. Por vezes, ela nos escapa. E, por incrível que pareça, em várias circunstâncias, por nossas próprias escolhas e, principalmente, em função das expectativas que possuímos e da visão que temos sobre a felicidade.

Há inúmeras situações que roubam nossa felicidade. Nem sempre temos controle disso. São fatores externos, alheios a nós. Porém, tenho notado que também criamos condições para que essa condição de bem-estar e equilíbrio nos abandone. Eu diria que buscamos a nossa própria derrota. E a frase “eu era feliz e não sabia” se torna uma verdade.

Ao longo da história da humanidade, diferentes filósofos procuraram definir o que é a felicidade. E, neles, encontrei muita sabedoria. A maneira de olhar a vida e encarar os próprios desafios cotidianos podem – ou não – resultar em felicidade. Por isso, alguns filósofos estimularam que devemos pensar bem para viver bem. Também há uma relação entre a felicidade e a prática da virtude. E a virtude se adquire com a sabedoria. A virtude é o agir corretamente, é procurar em todo o tempo e sob as mais diferentes condições fazer o bem.

Não é simples fazer o bem. Não é simples ter uma vida irrepreensível. Atos virtuosos são resultado da sabedoria – uma virtude de alma que, tenho aprendido, é concedida por Deus. Ser sábio é mais do que agir racionalmente; é ter controle sobre o corpo e sobre os pensamentos, é ter domínio de si mesmo. Outros aspectos são essenciais na caminhada pela felicidade: a humildade, o conhecimento, a justiça, a piedade.

Tarefa difícil. Difícil, porque somos impelidos a viver o contrário disso tudo. Queremos o que não temos, amamos o que não podemos, odiamos o que deveríamos amar, priorizamos nossos anseios e prazeres (amamos o consumo e, iludidos, pensamos nas coisas como possibilidades para a felicidade). Abnegação, negação do próprio eu nos parecem pesos que não podemos suportar.

Como dominar os desejos? Como controlar as vontades? Como ser humilde quando o mundo nos parece agressivo, intolerante, prepotente? Como ceder se tudo se resume em competir? Como ser justo se a justiça nos falta? Como ter piedade se o que notamos é o egoísmo, a falta de compaixão? Como bem querer se nos sentimos odiados, invejados, apunhalados pelos próprios amigos?

Acontece que a paixão momentânea – aquela que nos conduz a atropelar o que os gregos chamavam de “prática da virtude” – rapidamente se esvai, como grãos de areia que escorrem por entre os dedos e escapam de nossas mãos. Sobram a desilusão, a solidão, a culpa, o arrependimento, o sofrimento, a infelicidade.

Deixa eu te falar mais uma coisa: uma vida virtuosa não causa euforia. Talvez por isso frequentemente rejeitamos a ideia de práticas virtuosas. Queremos experimentar grandes emoções. Entretanto, a prática da virtude, embora não prometa acelerar o ritmo de nosso coração, garante calma e paz de espírito – ingredientes fundamentais para uma vida feliz. 

Ronaldo Nezo
Foto – Reprodução

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