Américo era o prefeito. Um grupo de arrojados senhores, Renato Celidônio à frente, como já foi lembrado aqui, teve a surpreendente ideia de promover o I Festival de Cinema de Maringá.
Era 1958, a cidade tinha só 11 anos, ainda respirando o aroma da floresta e ouvindo o miado das onças. Mas deu certo. Vieram os mais badalados astros e estrelas do cinema nacional: Anselmo Duarte, Odete Lara, John Herbert, Eva Wilma, umas vinte celebridades. Uma semana de filmes no Cine Maringá, além de outras muitas badalações e enormes filas de fãs no Grande Hotel para pegar autógrafos. Como projeção da cidade foi sensacional. Pena que nunca mais se repetiu beleza tamanha.
Acontece, porém, que, como uma das formas de arrecadar fundos para cobrir as despesas da festa, foi aprovada pela Câmara Municipal a cobrança de um adicional sobre todos os ingressos de cinema vendidos em Maringá. Parece-me que o equivalente a um real hoje, algo que o público nem sentia, mas que resultava num volume razoável.
Vai daí que veio outra ideia. Estava em início de construção, sob a liderança do Clube da Amizade (entidade formada por esposas de rotarianos), a Casa da Criança, precursora do Lar Escola da Criança de Maringá.
Havia crianças demais na cidade precisando de assistência, mas as dificuldades financeiras eram enormes. Deu então o estalo na gente e começamos n’A Tribuna de Maringá, em parceria com O Jornal de Maringá e a revista NP, outra campanha: conseguir, em benefício da Casa da Criança, um adicional igual ao que fora criado para o Festival de Cinema.
O médico Jorge Sato, que na época era vereador, comprou a “briga” e apresentou o projeto na Câmara Municipal. Aprovado por unanimidade. Sancionado sem pestanejar pelo prefeito Américo. E de imediato os frequentadores dos três cinemas então aqui existentes passaram a pagar um cruzeirinho a mais pelo ingresso. Vale lembrar que eram cinemas enormes e naquela época a população local não tinha outro divertimento, portanto dá para supor que o total da arrecadação era bastante significativo.
Não sei quanto tempo durou esse adicional, mas enquanto durou ajudou a construir, manter e consolidar uma das mais importantes entidades assistenciais de Maringá.
Terminada a construção da obra, o Clube da Amizade transferiu a direção para a diocese de Maringá. As atividades tiveram início oficialmente no dia 10 de maio de 1963, primeiramente acolhendo apenas meninos, depois também meninas.
Localizado na Rua Martim Afonso e dirigido com exemplar competência pelas Irmãs Murialdinas de São José, o Lar Escola abriga hoje centenas de crianças e adolescentes, promovendo cursos profissionalizantes e diversas outras atividades educativas. Os recursos provêm de fontes diversas, mas principalmente do coração generoso da comunidade.
A. A. de Assis
Foto – Reprodução