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O teste do Naby

O saudoso médico e político Naby Zacarias, assíduo frequentador da antiga “Boca Maldita”, falava ali certa vez sobre um teste que costumava aplicar em amigos seus que sonhavam candidatar-se a cargos eletivos. A experiência consistia em levar o candidato a candidato a algum lugar onde houvesse alguma grande concentração de pessoas, a fim de medir o prestígio do cidadão.
    
Dias antes ele havia levado um amigo ao “Bailão do Atlântico” para submetê-lo ao tal teste. Ficaram os dois de pé, próximos à porta principal. As pessoas iam entrando e quase todas cumprimentavam o Naby, trocando com ele amistosas palavras e abraços. Ninguém cumprimentava o distinto ao lado.
    
– Está vendo? – perguntou o médico – está vendo o que significa popularidade? Essa gente toda me conhece, sabe o meu nome, brinca comigo, muitos já foram ou são meus pacientes… Pois com essa popularidade toda eu não consegui me eleger deputado estadual. Imagine você, que não tem a mínima intimidade com o eleitorado… Quantos votos espera ter?
    
Pelo menos uns dez candidatos se descandidataram após passar pelo bem-bolado teste do Naby. O fulano se convencia de que voto que pesa nas urnas é o das pessoas simples; verificava que nessa área não teria futuro; fazia as contas; mudava logo de planos… Porque uma coisa é ser conhecido nas chamadas altas rodas, outra muito diferente é ser alguém capaz de misturar-se de alma e corpo com a moçada que realmente decide.
    
Há muita gente bem preparada que poderia estar exercendo cargos públicos com grande eficiência. Contudo, se o cargo depende de eleição, não basta ser bom sujeito, inteligente, competente e tal e tal: é preciso ter popularidade, e popularidade é coisa que o sujeito tem ou não tem; não adianta forçar.
    
Trata-se de um dom muito especial. E não é nem necessário ter nascido em berço pobre ou morar na vila para cair no gosto do povo. Getúlio Vargas, Juscelino Kubistcheck, Carlos Lacerda, Jânio Quadros, Adhemar de Barros, nenhum deles foi criado na favela; no entanto alcançaram níveis altíssimos de popularidade.

A questão é que nasceram com um carisma forte, aliado ao dom da comunicação. Sabiam abraçar e entender os mais humildes. De um jeito ou de outro criaram a imagem de advogados do povo, defensores dos pequenos, voz dos sem-voz. Esse tipo de coisa é que de fato conta.
    
Gente assim todo mundo conhece. Por isso o bom Naby, tão filósofo, sociólogo, psicólogo quão doutor cardiologista, ficava preocupado quando um amigo dele, sem suficiente popularidade, sonhava candidatar-se a alguma coisa. Levava o amigo ao “Bailão” para o teste infalível. Dessa forma evitou que muito sonhador gastasse tempo e dinheiro em aventuras eleitorais provavelmente decepcionantes.

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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