Estamos próximos do dia de São Francisco de Assis (4 de outubro). A propósito, li no Google que a Igreja Católica, ao longo de toda a sua história, já canonizou, ou seja, reconheceu oficialmente como santos, cerca de vinte mil homens e mulheres. Mas o que é exatamente um santo? E por que é que um é chamado “santo” (santo Antônio), outro “são” (são José)?
Primeiro o mais fácil: por mera questão de eufonia, nomes que têm consoante como inicial recebem “são” (são João, são Paulo, são Pedro); nomes iniciados com vogal ou “h” ficam com “santo” (santo Agostinho, santo André, santo Henrique). As exceções são poucas: Santo Cristo, Santo Tirso, Santo Tomás. No feminino a forma é sempre “santa”. E há um caso curioso: são Tiago, que originalmente era santo Iago, e no final ficou Santiago.
Agora o mais importante: o que é de fato um santo? Habitualmente a palavra “santidade” vem associada à ideia de sagrado, que por sua vez se associa à ideia de perfeição etc.
Assim, quando alguém é intitulado “santo”, entende-se que seja uma pessoa sem mácula, alguém que não comete nenhum dos pecados capitais – gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça, soberba. Ou, mais bonitamente, alguém que se enquadra nas bem-aventuranças – os humildes, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os pacificadores, porque deles é o Reino dos Céus.
Santo é, sim, tudo isso e muito mais. Mas por que se chama “santo”? Gosto de lembrar que em francês “santé” significa saúde. Dois parisienses, antes de beber o vinho, levantam as taças e fazem o brinde: “Santé”. Isso aí: santidade é saúde, sanidade. No caso, saúde espiritual.
Ser santo é ser uma pessoa espiritualmente sã – alma serena, consciência limpa, coração puro. Irmã Dulce passou a ser chamada santa por ser espiritualmente sã (sana, sadia). Francisco de Assis passou a ser chamado santo por ser espiritualmente são (sano, sadio).
Aliás, é o bom Francisco, na sua simplicidade de poeta, quem nos ensina um dos modos mais fáceis de entender o que é ser santo: é ser no mundo um instrumento de Deus – alguém que onde houver ódio leva o amor, onde houver ofensa leva o perdão, onde houver discórdia leva a união, onde houver dúvida leva a fé, onde houver erro leva a verdade, onde houver desespero leva a esperança, onde houver tristeza leva a alegria, onde houver trevas leva a luz.
Santo é alguém que semeia paz e bem onde quer que esteja, e na eternidade segue cuidando de nós com o mesmo carinho, a mesma paciência, o mesmo inesgotável amor.
Mas será que santidade é uma condição exclusiva dos canonizados? Penso que não. Há neste mundo milhões de homens e mulheres anonimamente santos, muitos deles e muitas delas bem pertinho de nós. Deus conhece cada um e cada uma.
Que sirvam de modelo para todos nós. Amém.
A. A. de Assis
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