Quando o presidente da república anunciou que indicaria um jurista ‘terrivelmente evangélico’ para Ministro do STF, falou algo sem sentido considerando a língua portuguesa, pois o advérbio terrivelmente significa capaz de causar terror, e no sentido figurado de modo intenso, forte, violento.
Já evangélico, segundo os dicionários, é um adjetivo que quer dizer relativo ao Evangelho, conforme o Evangelho, que pertence à religião reformada. São autoproclamados como evangélicos os seguidores do cristianismo, oriundos de religiões protestantes, as criadas a partir da dissidência de Martin Lutero na igreja católica, como é o caso da Presbiteriana, onde o indicado e aprovado, Andre Mendonça, é pastor, e as pentecostais, neopentecostais, que confesso não sei distinguir muito bem, mas cito as mais conhecidas a Universal do Reino de Deus, a Internacional da Graça, a Mundial do poder de Deus sob os comandos dos famosos Edir Macedo, RR Soares e Waldemiro Santiago.
Pessoalmente, de forma racional, usando o sentido literal da palavra, entendo que evangélicos são todos aqueles que mesmo não conhecendo as passagens, parábolas e ensinos morais deixados por Jesus Cristo, pautam suas vidas no maior código de moral é ética já elaborado, o Novo Testamento da escrituras sagradas, que narram acontecimentos e exemplos da vida do Mestre de Nazaré, quando esteve encarnado no Planeta Terra.
Portanto, são evangélicos todos católicos, protestantes, espíritas e praticantes de outros cultos, até os ateus, que seguem os princípios do cristianismo resumidos em dois artigos: Amar a Deus, acima de qualquer coisa. E ao próximo como a si mesmo, simplesmente perguntando, em qualquer situação: E se fosse comigo? E se todos fizessem? Ampliando um pouco mais, pessoas honestas, honradas, probas, justas, escrupulosas, decentes, decorosas, recatadas, dignas de confiança, que praticam o princípio da empatia.
Neste sentido, só os evangélicos verdadeiros podem realmente mudar o Brasil, transformando-o em uma nação justa, com melhor distribuição de renda, menos violência, com correta aplicação dos recursos públicos, menos corrupção, ou pelo menos com um combate sério, efetivo, deste verdadeiro mostro devorador de recursos públicos.
Um dos problemas mais sérios do Brasil, escrevemos em artigo publicado no começo anos 2000, em O Diário, é a criminalidade, notadamente o ‘crime organizado’. Para combatê-la com mais eficácia bastariam medidas óbvias que dificultassem a lavagem de dinheiro e sua utilização , seja internamente ou remessa para exterior. Que punissem a receptação e criassem penas mais rigorosas que acabasse com a sensação de impunidade. Vejam que parece que antevíamos o pacote anticrime e a atuação do então ex Juiz e ex ministro, Sérgio Moro, que tentou, mas não conseguiu, mudar as leis e manter condenações, por falta condutas verdadeiramente evangélicas, no congresso no executivo e no judiciário.
Pode alguém ser ‘ terrivelmente evangélico’? No sentido exato da expressão, não. Não existe mais ou menos evangélico. Ou se é , ou não é cristão evangélico e como tal, repito, não importa o seguimento religioso, ou denominação de culto.
Sobre o novo Ministro, indicado e aprovado pelo senado, fiz recentemente uma postagem como o título: Mendonça, dos males, o menor, com o seguinte texto: ‘Recentemente compartilhei post bolsonarista dizendo: ‘Eu apoio André Mendonça para o STF’, e recebi críticas e explico porque torci por sua aprovação: Se Alcolumbre e alguns senadores mais, estavam contra, acusando-o de ser um ‘lavajatista’, é bom sinal. Pior é que se o seu nome fosse rejeitado, o escolhido poderia ser Augusto Aras, o preferido, pelos que querem um STF com a cara do governo Bolsonaro. Gente do governo fingia defender o nome de Mendonça, mas no fundo torciam pelo PGR, este um ‘terrivelmente bolsonarista’. Não tenho dúvidas que melhor que Nunes Marques e o próprio Marco Aurélio Mello, a quem substituirá, André Mendonça será.
Se ele for mesmo evangélico seguirá o exemplo de Cristo, que disse que não veio para destruir a lei: ‘Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim destruí-los, mas dar-lhes cumprimento. Porque em verdade vos digo que o céu a Terra não passarão, até que se cumpra tudo que está na lei, até o último jota e o último ponto. (Mateus, V: 17-18). Se for muito, muito evangélico, como disse Bolsonaro, não deixará de cumprir a as leis e a constituição, para eventualmente condená-lo e a qualquer membro da família, por crimes que eventualmente tenham cometidos , ou na pior das hipóteses julgar-se impedido ou suspeito.
Que haja uma conversão geral nos tribunais e todos os juízes, desembargadores e ministros se tornem evangélicos, no verdadeiro sentido do termo. Oh, Glória !, diria alguém em línguas não compreensíveis para os demais mortais, se todo o executivo e o legislativo, também, se convertessem em verdadeiramente evangélicos. Isso será uma realidade um dia, mas vai demorar. Até lá convivermos com uma maioria terrivelmente injusta.
Akino Maringá, colaborador