Anos atrás, uma personagem de televisão repetia um bordão: “eu só falo do que tenho certeza”.
Era uma piada, claro! Ela mentia, distorcia, mas sempre fechava o besteirol dela com esse bordão… “Eu só falo do que tenho certeza”.
O pesquisador e ganhador do Prêmio Nobel, professor Daniel Kanehman, mostrou em seus estudos que nossas certezas, quase sempre, estão muito distantes de representarem a verdade.
Isso não tem a ver necessariamente com caráter. Tem a ver com o funcionamento do cérebro. Embora a gente use a palavrinha “racional” para designar os humanos e diferenciá-los dos demais animais, nós estamos muito distantes de sermos efetivamente racionais.
Somos sim capazes de pensar. E temos um enorme potencial para a elaboração de um pensamento racional. Mas isso pouco acontece. Por certo desconhecimento sobre nós mesmos e pouco investimento numa base sólida de conhecimento, somos facilmente enganados pela parte do cérebro que é mais intuitiva, emocional. O emocional, inclusive, é quem faz as escolhas sobre o que ouvimos, lemos, estudamos… Você já notou que de alguns livros você gosta e de outros, não? Que você se identifica mais com alguns youtubers do que com outros? Escolhemos ler, ver e ouvir aquilo que nos agrada. Pois é… Até o saber passa pelo filtro das emoções. Por isso, frequentemente, nossas convicções não passam de meias-verdades.
Ter a compreensão de como funciona a nossa mente é o primeiro passo para respondermos a pergunta que fiz: você fala do que sabe ou fala do que você acha que sabe?
Quando reconhecemos que nossas certezas podem ser meias-verdades, temos a chance de avançar, de dar um passo a mais na busca pelo saber.
E aí eu sempre lembro de uma frase poderosa de Jesus. Lá em Mateus, capítulo 22, versículo 29, encontramos Jesus alertando algumas pessoas que faziam questionamentos equivocados a respeito do reino dos céus.
E ele diz: olha, vocês erram por não conhecerem as escrituras.
Para quem Jesus fala isso? Principalmente para os saduceus e fariseus. Quem eram eles? Eram os grandes intelectuais da época, faziam parte da elite dos judeus.
Note, saduceus e fariseus são corrigidos porque falavam de coisas que achavam que sabiam. Jesus deixa claro que o erro deles nasce no desconhecimento. Eles acham que sabem, mas nada sabem.
E, como sempre digo, o pior ignorante é aquele que ignora sua própria ignorância.
O alerta de Jesus sobre as escrituras é aplicável a todos os campos do conhecimento.
No que diz respeito à Bíblia, por exemplo, muita gente se diz cristão, mas desconhece a Palavra. Conhecer não é saber meia dúzia de versículos ou mesmo ter lido a Bíblia de capa a capa. Conhecer não é ouvir sermões todo fim de semana na igreja ou acompanhar alguns pastores e padres na internet.
Conhecer implica num esforço de aprofundamento diário no saber.
Um dos maiores pesquisadores sobre performance, o neurocientista Daniel Levitin, analisou os grandes nomes do esporte, da música e de outras áreas. Ele concluiu que ninguém se torna autoridade em uma área sem antes ter dedicado pelo menos 10 mil horas ao estudo e a prática daquela atividade.
Ou seja, se você quer realmente saber sobre alguma coisa, precisa dedicar três horas diárias ao estudo daquele assunto por 10 anos.
Se você duvida desse argumento, leia as pesquisas de Daniel Levitin e também os livros de Anders Ericsson, autoridade mundial no estudo da expertise.
Então, preste atenção: existe sim uma hierarquia de conhecimentos. O conhecimento não é resultante de uma achismo. Um conhecimento é obtido por meio de uma dedicação sistematizada que nos leva a dominar os saber acumulados de uma determinada área. E nunca vamos conhecer sobre tudo.
Por exemplo, eu fiz um doutorado em Educação. Mas, mesmo sendo doutor nesta área, não domino as teorias pedagógicas. Tenho colegas que se dedicaram a isso. Eles são autoridade nessa área. Eu não. Meu foco sempre foram os processos de aprendizagem e como aprendemos por meio dos discursos. Então, eu falo do que sei.
Quando entendo que o conhecimento é complexo, eu me abro para o saber. Ninguém precisa ser uma autoridade em nenhuma área do conhecimento, mas faz bem ter a consciência do não saber. Isso nos mantêm abertos para o diálogo, para a descoberta e, principalmente, permite a boa prática de não criar confusão nas redes sociais defendendo coisas que pouco conhecemos.
Portanto, fica a dica. Invista no conhecimento.
Ronaldo Nezo
Foto – Reprodução
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