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O bailão do Penha

Num certo dia, lá pelos meados dos anos 1970, apareceu na redação da “Folha do Norte”, com aquele seu inconfundível sorriso, o querido maestro Fernando Penha. Viera pedir a publicação de um anúncio relacionado com o quentíssimo “Bailão Popular”, que ele promovia todos os sábados. “No Bailão as damas não pagam, somente os cavalheiros”, enfatizava o anúncio”.  De certo uma das razões do seu crescente sucesso.
    
A média de frequência andava por volta das 500 pessoas por baile. Discoteca alguma superava tal marca, esnobava ele. O prestígio do evento era tal que até os políticos faziam questão de circular por lá em todos os finais de semana.
    
Fernando Penha foi um músico pioneiríssimo em Maringá, clarinetista que nos bons tempos soprava cinco minutos seguidos de agudo sem perder o fôlego. Mineiro de São Sebastião do Paraíso, reencontrou aqui três conterrâneos ilustres: o jornalista Aristeu Brandespim (seu cunhado), o poeta Ary de Lima e o artista plástico Reynaldo Costa.
    
No começo, ele tocava na Banda do Marchini, a primeira da cidade; depois formou sua própria orquestra, que animava bailes no Aero Clube, no Grêmio dos Comerciários e em cidades vizinhas. Lembro-me de que havia até um cantor italiano, Tito Pezzi, e também o pistonista Pirulito, o Toninho da bateria, o Wilson cantor de boleros, e em ocasiões especiais contava com o mestre Aniceto Matti no piano ou no acordeón.
    
Um dia o Penha solicitou meus préstimos… isso quando eu era solteiro ainda, recente Maringá. Ele precisava de um “músico extra” e me escalou para a função, logo eu que de música não entendia nada. De qualquer forma, valia a experiência e acabei vestindo o uniforme da orquestra, com gravata borboleta e tudo, para tocar num baile em Mandaguari. Verdade.
    
Toquei um instrumento bastante original: despertador. Seguinte: constava do repertório um swing do Glenn Miller, “Pensylvania”. A certa altura, silenciavam-se os instrumentos e os músicos diziam em coro:    “6-5-0-0-0” (em inglês). Em seguida, deveria soar a campainha de um telefone… e era nesse ponto que eu entrava, tocando o despertador: “trrrrrriiiiiiimmmmmm”… Se falhasse, estragava a música.
    
Parece fácil, mas a coisa exigiu muitos ensaios. Era preciso ficar com o despertador engatilhado, o dedo segurando a trava, e soltar no momento exato de soar a campainha. E foi assim que pela primeira, última e única vez na vida fui músico de orquestra, ficando devendo por isso ao grande Penha esse precioso item de minha longa biografia.
    
Na visita dele à redação da “Folha”, Penha lembrou aquela insólita aventura. Ainda bem que ele já havia tirado do seu repertório a “Pensylvânia”, porque eu não pretendia voltar jamais a dar meu show de despertador…

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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