O livro nem é novo. Foi publicado em 2015 pela editora paulista Cidade Nova. Achei-o por acaso na internet. Trata-se de uma longa entrevista concedida aos jornalistas Adelmo Galindo e Michele Zanzucchi pelo cardeal João Braz de Aviz.
Conta-se ali toda a história do querido prelado, desde sua infância em Mafra-SC até os desafios que hoje enfrenta como responsável por um dos serviços mais importantes do Vaticano, com o seu escritório bem ao ladinho do papa Francisco. Ele é o prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
Só um detalhe causa estranheza: Maringá ficou de fora na geografia da história. Há referências carinhosas aos vários lugares onde Dom João trabalhou: Borrazópolis, Marilândia do Sul, Apucarana, Vitória, Ponta Grossa, Brasília. Na orelha do livro, Maringá até que aparece na lista desses lugares, porém ao longo de todo o texto nossa arquidiocese não é citada nem uma vez. Uma pena, porque Dom João, nosso terceiro arcebispo, sempre se refere com especial ternura ao rebanho que ele aqui pastoreou. Suponho então que a falha tenha resultado de algum cochilo dos organizadores da obra.
Descontada essa lacuna, que nos deixa com uma pontinha de ciúme, o livro é muito interessante: mostra a trajetória, as ideias, as lutas, os sonhos de um homem extremamente simples, justo e bom, um intelectual de grande cultura (doutor em Teologia Dogmática), aparentemente tímido mas dotado de notável coragem, sobretudo rigorosamente fiel à verdade. E diz tudo sem rodeios, o que dá à entrevista um extraordinário vigor.
Quem ainda não leu, decerto gostará de ler “Sou João”. Não disponho de espaço para entrar em pormenores, porém deixo aqui algumas frases do nosso generoso e sábio pastor:
“Nós, que ocupamos postos de direção e de responsabilidade, devemos ser humildes¸ justamente para encontrar o outro nessa relação de amor”. “A relação com as pessoas do Movimento dos Focolares fez-me compreender que eu não era maior que o leigo”. “O sacerdócio expõe; você não vive mais para você mesmo, mas para os outros”. “Qual é a minha missão? Pregar o Evangelho, certamente, mas é sobretudo compreender a dor que encontro no coração das pessoas, saber ouvir, estar perto das pessoas”. “No clero nem todos têm a mesma maturidade, há padres que atravessam crises graves”. “Se você foge da verdade, mesmo por pouco tempo, não tem mais um parâmetro para poder agir”. “O papa Francisco não gosta de ser chamado de santidade e então o chamo simplesmente de papa Francisco. Quando ele se dirige a mim, chama-me de querido hermano”.
Conversei com Dom João apenas uma vez, num encontro casual. Na ocasião brinquei: “O senhor poderia chamar-se Fidélis”. Ele riu, deu uma pensadinnha, respondeu: “Poderia sim…”. É que ele nasceu num dia 24 de abril, festa de São Fidélis de Sigmaringa, padroeiro de minha cidade natal. Quem sabe ele se lembre disso. Se lembrar, vai saber que, para nós fidelenses, seria uma grande alegria tê-lo como xará do nosso santo protetor.
A. A. de Assis
Foto – Reprodução
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