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O cérebro presta atenção nas coisas ruins da vida

Você já notou que seu cérebro presta muito mais atenção nas coisas ruins do que nas coisas boas? Ei… é normal: as coisas negativas vão te impactar muito mais do que as coisas boas.

É fato que algumas pessoas desenvolveram a habilidade de focar naquilo que é positivo (e isso é essencial para uma vida boa), porém, o comum é que o negativo tenha impacto maior em nossa vida e ocupe a nossa mente.

Afinal, como algumas pesquisas já provaram, no cérebro, o mal sempre vence.

Por isso, o que representa perigo ou possibilidade de perda costuma ter mais urgência e maior impacto sobre nós. Trata-se de uma reação natural do próprio corpo. Fomos equipados com uma percepção maior daquilo que é negativo. Trata-se de um mecanismo de sobrevivência. Estar em alerta nos permite prever o que pode acontecer e, com isso, nos precaver.

Por isso, com frequência, o cérebro procura más notícias tanto no mundo lá fora quanto dentro do corpo e da mente.

Não precisamos fazer nenhum esforço para que o cérebro fique procurando pelo que existe de mais negativo. Ele faz isso automaticamente.

Mas a parte do cérebro que atua de forma constante na busca por coisas ruins, não é nada racional. Por isso, se concentra nas coisas ruins e perde de vista o quadro mais amplo. Por exemplo, imagine a seguinte situação: você anda muito agitado ultimamente e começa a não dormir bem. Automaticamente, haverá mudanças de humor. Você vai ficar mais irritado, mais lento… Dali a pouco, você começa a achar que as pessoas estão falando de você pelas costas, que os colegas andam ríspidos com você, que seu chefe tem sido muito exigente… Ou seja, você começa a avaliar que o mundo está se voltando contra você, como se tudo conspirasse contra você.

Quando isso ocorre, se não mobilizar a parte racional do cérebro, dificilmente vai enxergar que talvez o problema esteja em você, por estar mais sensível, mais cansado, mal humorado e, com isso, estar errando mais. Sua visão dos acontecimentos estará deturpada, mas precisará de uma atitude consciente para enxergar além daquilo que parece óbvio.

Ou seja, é possível que existam problemas, mas, por focar no que existe de pior, é comum que o cérebro reaja exageradamente ao negativo, sem colocar o cenário em perspectiva, para entender melhor tudo o que está acontecendo. Na prática, naturalmente, o cérebro potencializa o pior e motiva uma reação exagerada aos acontecimentos.

O quadro, porém, não para por aí. A reação do cérebro transforma rapidamente a suposta experiência negativa em memória social, somática e emocional. Todo o seu corpo é sensibilizado por doses repetidas de cortisol, o hormônio do estresse, tornando-se ainda mais reativo a experiências negativas – que banham o cérebro com ainda mais cortisol, criando um ciclo vicioso. E isto te afunda ainda mais, impedindo de enxergar as coisas positivas e, principalmente, de apreciar o que existe de bom na vida. Com o tempo, para algumas pessoas, o peso das emoções negativas pode se tornar quase insuportável, necessitando de tratamento psicoterápico e até medicamentoso.

Entenda, nosso cérebro é como velcro para as más experiências e teflon para as boas.

Como lembra o pesquisador Rick Hanson, experiências agradáveis, úteis e benéficas acontecem muitas vezes por dia – apreciar uma xícara de café, terminar alguma tarefa em casa ou no trabalho, aconchegar-se na cama com um bom livro à noite –, mas, em geral, elas passam pelo cérebro como água pela peneira, enquanto cada experiência estressante ou prejudicial fica presa. Somos projetados para aprender mais com as experiências ruins e menos com as boas.

Porém, se não entendermos isso, se negligenciarmos como nosso cérebro reage, tornamo-nos reféns de nós mesmos e de nossas piores emoções. Penso que você não quer isso, certo? Portanto, faça um esforço para assumir as rédeas de suas emoções. Você não tem como evitar o que vai sentir, mas pode escolher como vai reagir. 


Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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