Essa afirmação parece um tanto óbvia, mas muita gente sofre pela falta de dedicação dos filhos nos estudos, pela mãe que insiste em não ir ao médico, pelo marido diabético que não segue as orientações de saúde.
Gente, é nosso dever ético agir com responsabilidade para que nossas ações não façam mal a outras pessoas. Porém, existem coisas que não podemos fazer pelas pessoas. Cada um é responsável por sua história.
O conceito de autorresponsabilidade deve ser assumido como prática de vida. Eu preciso entender que ninguém pode fazer por mim aquilo que me cabe fazer. Porém, o inverso é verdade.
Pense em um relacionamento com um colega de trabalho, amigo ou familiar. O que lhe cabe fazer e o que cabe a eles?
Por exemplo, com filhos adolescentes, você pode concluir que seu trabalho é insistir para que façam o dever de casa, ajudá-los quando necessário e impor consequências se matarem aula.
Se você é pai ou mãe, você deve agir como educador. Orientar, disciplinar, corrigir. No entanto, você não pode aprender por seus filhos; só eles podem realmente aprender.
Agora… considere um parceiro romântico. Você pode dar amor, atenção e afeto – porém, por mais doloroso que seja, o amor por você, a retribuição, cabe à outra pessoa. Não há garantia alguma que dar amor ao outro vai resultar em mais amor pra você.
Geralmente nos perdemos tentando fazer algo acontecer dentro da caixa preta da mente do outro: fazer alguém pensar, sentir ou se importar de um determinado jeito.
Nos desgastamos com isso. Muita frustração e muito conflito nascem da expectativa de alterar o comportamento do outro ou fazer com que o outro aja de acordo com o que parece certo.
Entenda, quando for adequado, você pode dar sua opinião, fazer recomendações e explicar as razões. Essa é sua oferenda ao outro. Este é seu cuidado com o outro…
Às vezes, você pode criar um ambiente favorável. Por exemplo, no caso do marido diabético, você pode evitar ter coisas com açúcar nas refeições, pode até seguir a dieta que caberia ao parceiro. Mas você não tem como impedi-lo de comer uma barra de chocolate longe de seus olhos ou mesmo que ele compre pra comer após o almoço.
O avô da Rute, minha esposa, era diabético. A família fazia tudo por ele. Mas ele comprava rapadura escondido. Quando morreu, a família encontrou rapadura escondida no guarda-roupa.
Está entendendo?
Tem coisas que a decisão é do outro.
E tem mais… Não podemos fazer ninguém feliz – nem mesmo nossos filhos. Você pode criar um ambiente agradável em sua casa, mas não pode fazer com que pessoas que você ama sejam felizes.
É comum sentirmos o peso da responsabilidade pelo estado de espírito ou pelo comportamento de algumas pessoas, principalmente da família.
Podemos dar passos sensatos, que vão de perguntar como alguém se sente até levar nosso filho ao terapeuta; mas, por mais que corte seu coração, o que os outros fazem com o que oferecemos cabe a eles.
Na dinâmica da vida fora de casa e até nos negócios, você também não tem controle sobre a atitude dos outros.
Você pode usar os melhores argumentos de venda, mas não pode fazer o cliente comprar. Pode abrir uma loja, mas não pode fazer as pessoas entrarem.
Pegou a ideia?
Então guarde no coração este recado:
“Tente não deixar que a preocupação com o que não está em suas mãos atrapalhe o cuidado com o que está ao seu alcance a cada dia” (Rick Hanson).
Infelizmente, muitas vezes, gastamos energia com coisas que não controlamos e deixamos de cuidar das coisas que podemos fazer por nós…
Você não pode fazer seu filho aprender, mas você pode aprender. Você não pode fazer seu marido diabético deixar de comer doce, mas você pode ter um comportamento preventivo… Você não pode fazer seu irmão cuidar das finanças dele, mas você pode cuidar do seu orçamento pessoal…
Enfim, ocupe-se do que você pode fazer. O que cabe ao outro fazer, deixe que o outro faça.
—
Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
Visite meu blog:
http://blogdoronaldo.wordpress.com
Siga-me no instragram:
http://instagram.com/ronaldonezo