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A lição do Zorro

Vi recentemente um filme em que o Zorro velho, preparando-se para a aposentadoria, começa a treinar um jovem para ser o seu sucessor. Primeira lição: jamais entre com raiva numa briga. Raiva descontrola o raciocínio, e aí quem tira vantagem é o adversário.
    
Vale isso para qualquer competição. Os mais idosos se lembram das travessuras do grande craque Garrincha, o rei dos dribles. Ele logo no início do jogo fazia um monte de piruetas com a bola, provocando o marcador de tal modo que o coitado enfurecia e partia para a ignorância, muita vez acabando por ser expulso de campo.
    
Vale também para qualquer debate, seja entre advogados, seja entre parlamentares, seja num confronto entre candidatos a algum cargo político. Quem entra de cabeça quente perde as estribeiras e começa a falar bobagem. Uma palavrinha malpensada pode pôr tudo a perder. Se o oponente é esperto, aproveita e tira um sarro.
    
A propósito, havia nos outroras um baião que dizia assim: “Raiva só faz mal a quem a tem”. Verdade verdadeira. Cuca quente, boca imprudente. Se você quer, por exemplo, levar um político a falar alguma coisa que o comprometa, basta fazer uma perguntinha irritante. Se o fulano não tem autocontrole suficiente para segurar a língua, ele cai fácil na arapuca.
    
O ex-presidente Juscelino era mestre em tirar vantagem dessas situações. Jamais perdia a fleugma nas entrevistas, nos embates políticos ou em quaisquer situações embaraçosas. Certa vez foi assistir a uma peça de teatro no Rio de Janeiro. Ao ser anunciada sua presença, foi alvo de estrondosa vaia. Pediu um microfone e tranquilamente saudou o público: “Estou me sentindo extremamente orgulhoso. Que bom viver num país livre e democrático, onde a qualquer momento a população pode apupar um governante sem medo de repressão nenhuma”. A vaia transformou-se numa gloriosa sucessão de aplausos.
    
Inseto não gosta de inverno. Em cabeça fria não entra grilo. Sábio conselho o do Zorro velho: manter sempre o bom humor e a calma, e tirar proveito da ira alheia.
    
Aqui mesmo em Maringá, como vocês decerto se lembram, tivemos vários exemplos de candidatos que souberam virar a seu favor o efeito de agressões sofridas. Chamaram o Américo de “violeiro”. Ele passou a se apresentar nos comícios tocando viola e ganhou a eleição. Chamaram os apoiadores de Luiz de Carvalho de “lambaris”. O peixinho virou símbolo da campanha e Luiz foi o vitorioso. Depois chamaram os eleitores de Adriano Valente de “pés de chinelo”. Adriano venceu.
    
O Zorro sabe das coisas: jamais entre com raiva numa competição.
    
Ou, como dizia o baião: “Raiva só faz mal a quem a tem”.

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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