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Precisamos ter um compromisso sério com a educação

Sou um apaixonado pela educação. Sei que a afirmação é meio clichê, mas realmente acredito na educação e no valor da escola. O Brasil seria outro se investíssemos recursos, tempo e atenção. Lamentavelmente, o discurso sobre educação é apenas isso: discurso vazio.

Os agentes públicos geralmente têm ideias limitadas sobre modelos pedagógicos e, por isso, se restringem a fazer propostas que vão do investimento em tecnologias ao aumento do salário dos docentes e técnicos. Embora tudo isso seja importante, está longe demais de transformar a educação na ferramenta de mudança da sociedade.

Penso que boa parte dos nossos problemas cotidianos poderia deixar de existir se tivéssemos uma educação de qualidade. E, qualidade, no meu entender, não tem a ver apenas com ter bom ensino de matemática, português, ciência, geografia, história… Qualidade tem a ver com ensino conectado à vida.

Hoje, os referenciais de qualidade quase sempre servem apenas para medir se o que está no programa curricular tem sido assimilado pelos alunos. Mas educação de qualidade, defendo, deveria formar pessoas capazes de pensar criativamente, de forma inovadora, responsável e, principalmente, desenvolver competências emocionais – não é difícil notar que nossa sociedade está doente.

Entretanto, essa educação de qualidade não depende da escola em si. Tampouco depende dos professores. Essa educação de qualidade depende de todos nós, de uma sociedade que valorize, de fato, a escola.

Ainda esta semana esbarrei numa frase que havia grifado anos atrás num dos livros do professor Moacir Gadotti. Ela diz “a escola não pode mudar tudo e nem pode mudar a si mesma sozinha”.

Profunda, né?

O professor Gadotti, que é um dos maiores educadores brasileiros, resume nessa frase o valor da escola, as limitações da escola e as carências da escola.

Veja, primeiro, ele aponta que muitas mudanças podem acontecer a partir da escola. Quando diz “a escola não pode mudar tudo”, indica os limites da escola, mas também deixa implícito que muitas coisas podem ser feitas a partir da escola. A educação impacta a vida das pessoas e pode causar grandes transformações.

Mas, como citei, o professor Gadotti também reconhece que a escola não dá conta de mudar tudo. E embora tenha um papel fundamental, há coisas que dependem de outros setores da sociedade e até de iniciativas que possam aperfeiçoar a própria escola.

Nos últimos anos, foram atribuídas à escola muitas demandas que não são necessariamente papel dela. De certo modo, tudo aquilo que precisa ser mudado na sociedade foi jogado no colo dos professores. Estão todos atarefados e, por vezes, sequer sabem como trabalhar determinados conteúdos na proposta pedagógica de suas disciplinas. Até a ausência das famílias na educação dos filhos acabou indo parar nas mãos da escola. Professores não foram preparados para dar conta de tantas demandas e tampouco a estrutura escolar assegura tempo e condições para que uma pauta tão extensa seja implementada e desenvolvida na sala de aula.

Por fim, o que mais chama a minha atenção na frase do professor Gadotti: aquilo que não funciona na escola não é necessariamente culpa da escola; cabe à sociedade movimentar-se em favor da educação. Não basta dizer que a defende a educação, fazer discursos bonitos ou, em palanques eleitorais, afirmar que a educação é prioridade; é necessário envolver-se e, da parte das pessoas, cobrar do poder público um projeto coerente para a educação, além de se interessar pelo cotidiano escolar – não apenas deixando as crianças na portão e/ou participando de reuniões.

Chega a ser ridícula a cobrança que se faz e até a desconfiança que se tem da educação brasileira. Afinal, ela é produto de políticas equivocadas e necessitam de uma revisão ampla e que ocorra sem melindres (é necessário admitir que muitos dos pesquisadores da educação são extremamente resistentes às mudanças).

Concluindo, uma educação de qualidade depende da qualidade do compromisso que uma sociedade tem com sua escola. E num ano eleitoral, vale responder: conheço, de fato, a política educacional proposta pelo meu candidato?


Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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