Não vale mentir, hein? Acho que todo mundo tem uma quedinha por espiar a vida alheia, principalmente dos famosos. Nós vivemos a era da celebridade. O filósofo e sociólogo alemão Walter Benjamin, ainda nos anos 1930, relacionava o culto à celebridade entre as principais mudanças culturais do então século 20.
A chegada no cinema no final do século 19 e sua popularização no início do século 20, o crescimento de jornais e revistas, o surgimento do rádio nos anos 1920 criaram um cenário de comunicação completamente novo.
A chamada comunicação de massa já era uma realidade – antes mesmo da televisão. E, com isso, crescia o interesse das pessoas comuns por aquelas que apareciam em filmes, escreviam em jornais e revistas ou falavam e cantavam nas emissoras de rádio.
Estava sendo gestado um novo hábito: o consumo de conteúdos relacionados aos artistas das mídias. E Walter Benjamin anteviu isso ainda no início dos anos 1930.
Entretanto, esse interesse por pessoas com certa visibilidade não foi algo que começou por causa do rádio, dos jornais, do cinema… Muito antes de existir uma mídia de massa, as pessoas já se interessavam por tudo que dizia respeito aos famosos de suas épocas.
Note, Jesus Cristo, sem nunca buscar os holofotes para si, foi uma celebridade na época dele. Por onde andava, centenas e até milhares de pessoas o acompanhavam. Queriam os milagres, queriam ouvi-lo, mas muitos o acompanhavam por curiosidade.
Cristo não agia como as celebridades de nossos dias, é claro. Porém, semelhante às celebridades, atraia os olhares e a atenção das pessoas.
Ainda antes de Cristo, os atores do teatro grego, os heróis de guerra, já eram alvo do interesse das multidões. Tudo que dizia respeito a essas pessoas era observado, comentado… Ou seja, mesmo sem imprensa, elas viravam notícia entre as pessoas.
O escritor suiço Alain de Botton, um dos mais influentes filósofos da atualidade, afirma que estamos acostumados a criticar as pessoas por acompanharem as celebridades e até copiá-las. Porém, segundo ele, esse tipo de hábito faz parte da nossa natureza.
O filósofo aponta que geralmente achamos que qualquer pessoa que “copie” uma celebridade é triste e não tem autenticidade. Porém, Botton ressalta que, em sua forma mais elevada, a imitação baseada na admiração é parte integrante de uma boa vida.
Ele destaca que se recusar a admirar ou não se interessar pelo que pessoas distintas estão fazendo é se isolar, de maneira exagerada e implausível, de um conhecimento importante. Ou seja, acompanhar, observar e até copiar pessoas célebres não seria um problema, segundo o filósofo. É possível aprender com elas. Buscar inspiração nelas.
Qual o problema então? O problema é que fazemos de pessoas vazias, que não têm nada para nos inspirar, celebridades. Também buscamos observá-las e copiá-las naquilo que há de mais fútil, de mais vazio.
O filósofo Alain de Botton afirma que deveríamos parar de tratar as melhores celebridades como aparições mágicas, que só podem ser alvo de admiração vazia ou curiosidade sorrateira. Lembra que elas são pessoas, são seres humanos comuns, que realizam coisas extraordinárias graças ao trabalho duro e ao pensamento estratégico.
Devemos considerá-los casos a serem estudados e dissecados com uma questão fundamental em mente: “O que posso absorver dessa pessoa?”
Ou seja, em nossa atenção às celebridades, em resumo, geralmente três erros são cometidos:
Primeiro, nem sempre olhamos para quem realmente tem algo a ensinar. Gente que nada tem a oferecer, por vezes, é algo de nosso interesse.
Segundo, mesmo em celebridades que podem nos inspirar, deixamos de focar nas lições que elas podem nos trazer pelo esforço, preparação, dedicação, persistência, conexão, resiliência, entre outras características que as levaram a estar onde estão.
Terceiro erro, esquecemos que as celebridades são pessoas, são humanas. São falhas. Podem nos inspirar, mas não são irrepreensíveis e nem estão livres de falhas. Ainda assim, é possível aprender com aquelas que, em algum aspecto, fazem a diferença – inclusive com as mais polêmicas.
É possível aprender sobre gestão, sobre marketing, sobre estratégia, sobre generosidade…
Mas, entenda, o foco é observar e até admirar para aprender. Nunca devemos cultuá-las. Na perspectiva cristã, o culto à celebridade é uma forma de idolatria. A idolatria envolve adoração. O objeto adorado se torna um deus. E o primeiro mandamento é bem simples: não terás outros deuses além de mim – palavras do próprio Senhor, no capítulo 20 de Êxodo.
Lembre-se: as lições que obtemos são transferíveis e as virtudes podem ser aplicadas a outras atividades. Alguém que brilha no cinema pode deixar lições que servem para a gestão de uma empresa, por exemplo.
Pessoas que se destacam não se destacam por acaso. Sempre há algo para aprender com elas. Por isso, aproveite essa característica nata de curiosidade pela vida alheia para aprender com o que os outros, inclusive os famosos, fazem de melhor.
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Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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