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Viva o elevador!

Sempre que se fala em vizinhos me vem à lembrança um vexame que passei, há coisa de 20 anos, numa viagem diurna, de ônibus, de São Paulo para Maringá.

     Na poltrona ao lado estava um rapaz que puxou conversa, me chamando pelo nome. Parecia-me também conhecê-lo, mas não me lembrava de onde. Só depois de um bom tempo de papo me caiu a ficha: éramos vizinhos, residentes no mesmo prédio. Era dos encontros no elevador que me lembrava dele…

     Esse exemplo (ou mau exemplo) não é dos mais ilustrativos, porque sou meio distraído mesmo. Mas serve para demonstrar como enfraqueceram nos últimos tempos os velhos “elos de vizinhança”. Até nos edifícios de apartamentos, onde as pessoas moram quase juntas, “é-difícil” o relacionamento. O elevador é o único ponto de encontro. Daí a preciosa função social do sobe-e-desce naquele apertado “minimetrô” vertical, onde os moradores trocam algum “bom-dia”, “como vai”, “puxa, que calor…”

     É nos nervosos momentos de espera do elevador, e durante os poucos segundos em que viajamos nele, que a gente começa a conhecer os vizinhos. Primeiro, apenas de vista; depois, pouco a pouco, pelo nome. O blá no início é na base da chamada linguagem fática: um “oi” qualquer para quebrar o gelo. De tanto subir e descer, a conversa vai ficando mais animada, na medida em que uns vão sabendo coisas dos outros.

     A troca de visitas, até entre os que moram no mesmo andar, continua rara. Apesar de tudo, entretanto, vão se estreitando os laços. Os rostos vão se tornando mais familiares. As mulheres já se encorajam a bater às portas das outras para pedir emprestado um pedacinho de fita adesiva. As crianças, mais comunicativas, vão se enturmando, organizam brincadeiras no playground, e por causa dos filhos os pais vão devagarinho aprendendo também a dialogar mais intimamente uns com os outros. Alguns chegam logo a até formar grupos para jogar truco ou promover churrascadas no salão de festas.

     É, porém, no elevador que toda essa aproximação começa. Bendito aparelho que, embora de vez em quando enguice, tem sido, nestes tempos de gente apressada, o mais eficiente fazedor de amizade entre vizinhos,

     Nem todos chegam a conhecer-se pelos nomes, menos ainda pelo apelido ou pela profissão, e raros deles já entraram na sala ou na cozinha do parceiro de condomínio, mas todos acabam capazes de pelo menos reconhecer uns aos outros quando se encontram em algum lugar fora do prédio.

     Viva então o elevador! Nos edifícios residenciais ou de escritórios, graças a ele quantos amigos já fizemos. O meu vexame com o companheiro de ônibus não vale como regra.

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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