Se o nosso cérebro foca nas coisas negativas, como olhar de maneira positiva para a vida e para os acontecimentos?
Esta pergunta foi enviada por um dos nossos leitores. Após ler um dos nossos textos anteriores sobre o funcionamento do cérebro, mandou um recado dizendo:
– Ronaldo, entendi. É assim mesmo. Eu sou assim. Eu vejo primeiro o negativo. Mas o que nós podemos fazer para não prestar atenção só no que é negativo?
Gente, observar, prioritariamente, o que é negativo, não é escolha; é reação normal, espontânea, do cérebro. No cérebro, o mal vence o bem. Somos mais atraídos para as coisas ruins do que para as coisas boas.
Imagine a seguinte situação: uma pessoa que você ama demais terá que fazer uma cirurgia. O médico conversa com você, explica os procedimentos e, por fim, te diz o seguinte: “olha, preciso te alertar, essa cirurgia é bastante segura, mas existe 5% de chance de não sair viva do centro cirúrgico”.
Conseguiu imaginar a cena? Agora, pergunto: deu um friozinho na barriga ou não? Você pensou nesses 5% de risco ou só lembrou dos 95% de chance de dar certo?
Focar nas coisas negativas não é uma escolha consciente… Nosso cérebro é atraído para tudo o que é negativo. Prestamos mais atenção numa crítica do que num elogio. O copo fora do lugar chama mais atenção do que a louça lavada.
No relacionamento, inclusive, o pesquisador John Gottman, professor emérito da Universidade de Washington, depois de analisar milhares de casais por cerca de 30 anos, chegou à conclusão: um relacionamento só é feliz se para coisa negativa que acontece outras cinco positivas são apresentadas.
Note, para compensar o estrago de um único evento negativo são necessárias cinco coisas positivas. Por quê? Porque prestamos mais atenção no negativo. E é grande a chance do casamento desandar em função dos pequenos problemas.
Mas o que fazer então? Essa é a pergunta do leitor.
Primeiro ponto, é fato que algumas pessoas são mais negativas do que outras. Também é verdade que existem aquelas que são positivas demais. A positividade excessiva pode ser tóxica. Ou seja, os extremos existem. E os extremos nunca são bons.
No caso das pessoas excessivamente negativas, que reclamam demais, não tem muito o que fazer. Se não reconhecerem o problema, vão viver amargas por toda a vida. E ainda vão azedar a vida dos outros.
Mas, para todos os demais, vale as seguintes dicas.
Tenha consciência de que é assim que funcionamos: tendemos para tudo o que é negativo. Prestamos mais atenção no negativo.
Se lembramos disso, estabelecemos uma vigilância consciente de nossas atitudes.
E aqui entra o segundo ponto. Quando você chega na cozinha e vê um copo fora do lugar, se o sangue sobe, você lembra: opa, tô deixando os meus instintos agirem. Será que não tem nada positivo aqui? Você fará isso porque vai lembrar que precisa reparar no que é positivo. Vai lembrar que está reagindo negativamente.
Enxergar o lado positivo das coisas é uma atitude consciente. A reação natural é inconsciente. Está na nossa programação mental. Porém, se você exerce essa vigilância consciente, quando acontecer alguma, você vai lembrar: ei, aqui estou eu pronto(a) para reclamar. Vamos contar até dez e pensar direito?
Terceira dica, já disse aqui sobre o exercício da gratidão: encontrar, diariamente, três motivos para agradecer. Isso não é bobagem! Existem estudos realizados em universidades norte-americanas que provaram: parar, diariamente, diante de um caderno, de um diário, para escrever (e precisa escrever) três motivos de gratidão ajuda a deslocar essa fixação pelo que é negativo para uma percepção mais positiva das coisas.
Eu já fiz o exercício e confesso: no começo, dá muito trabalho encontrar três coisas positivas. Não se trata de dizer “sou grato pela vida”, “sou grato pela minha família”… Isso é genérico demais! Estamos falando de gratidão com clareza e objetividade. Tipo, sou grato porque cheguei em casa hoje e minha filha logo veio me contar que tirou 9,5 na prova de Matemática.
Tá entendendo?
É um exercício. Trata-se de uma tarefa consciente que busca treinar o cérebro para reparar nas coisas boas… Treinar o cérebro para olhar a vida de forma positiva.
Isso não significa negar o que está fora do lugar, nem ignorar os problemas. Significa, porém, ter mais atenção aos detalhes, porque muita coisa boa acontece e simplesmente não vemos.
Quando exercitamos os “músculos da positividade” do nosso cérebro, começamos a desfocar do que é negativo. Ainda vamos ver o que existe de ruim, mas também vamos notar as coisas positivas. O copo ainda estará fora do lugar, mas a louça lavada também será notada. A crítica recebida ainda será uma crítica, mas os comentários positivos, os elogios também serão notados, e serão alegradores.
Faça isso! Exercite a sua mente para deslocar seu olhar do negativo e enxergar o positivo. Até sua espiritualidade vai melhorar. Em suas preces, vai pedir menos e agradecer mais. Tenho certeza disso!
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Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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