Que fardos você carrega com você? Memórias tristes? Traumas? Situações não resolvidas?
Frequentemente, escuto pessoas que dizem: “ah… Ronaldo, eu gostaria de fugir daqui; sair dessa cidade, ir pra um lugar que ninguém me conhece e começar tudo de novo”.
Sabe, às vezes, ir para um lugar novo e começar uma nova história pode sim ser uma escolha inteligente, mas, entenda, nenhum lugar do planeta (ou fora ele) pode garantir um recomeço se a pessoa continuar carregando consigo o fardo da vergonha, da culpa, do medo…
Se a mudança tiver o objetivo de se livrar da dor, o objetivo não será alcançado.
Dias atrás, li uma frase interessante. O filósofo Sêneca disse:
“É o peso da alma que deves deixar: antes disso, nenhum lugar te agradará.”
Veja que profundo! Muita gente acha que, se mudar de emprego, se trocar de turma na faculdade, se mudar de casa, se sair da cidade, tudo vai mudar. Mas nenhum lugar agrada se não resolvermos, primeiro, os problemas que temos.
E isso também vale para um relacionamento. Conheço gente, por exemplo, que viveu experiências horríveis no relacionamento. E aí, pouco tempo após sair do relacionamento, se envolveu com uma outra pessoa. Meses depois, estava tendo problemas de novo. Motivo? A pessoa não se curou do passado. As feridas ainda estavam abertas.
O peso da alma impede que se enxergue a beleza do novo lugar, da nova pessoa…
Imagine a seguinte cena: alguém deitado numa cama de espinhos em seu quarto… A pessoa sofre, chora, grita de dor. Para resolver o problema, transfere a pessoa e a cama de espinhos para uma das belíssimas praias de Florianópolis ou de Fortaleza… Problema resolvido? Evidentemente, não. Só mudou o problema de lugar. Vai continuar doendo, vai continuar incomodando.
É assim conosco: enquanto não nos livramos do peso que carregamos na alma, nenhum lugar vai agradar.
Também sobre isso, li uma outra frase que dizia:
“Qualquer coisa que faças a fazes contra ti e no mesmo movimento te prejudicas, pois tu carregas um homem doente.”
Ou seja, se não resolvemos o problema, se não tratamos do trauma, se não ressignificamos uma memória, cada novo movimento produz um novo problema.
Eu gosto de uma pequena citação do livro dos Salmos. O autor afirma: “abismo chama abismo”. Quando estamos doentes por dentro, quando o coração está machucado, ferido, a tentativa de fugir traz novas dores, aprofunda o problema.
Por isso, também é recomendável que não se tome nenhuma decisão importante quando a pessoa não está bem. A chance de fazer bobagem e se magoar ainda mais é grande.
É fundamental romper com o passado para encontrar a alegria de viver.
Romper com o passado não tem a ver com apagá-lo. Romper com o passado significa tratar das feridas, enfrentar os problemas, criar novas memórias e, principalmente, perdoar e perdoar-se.
Quando fazemos isso, a vida volta a ter suas cores. E aí, independente de onde estivermos, com quem estivermos, quando estivermos, seremos felizes.
O filósofo Sêneca afirma:
“Quando te livrares desse mal, toda mudança de lugar se tornará alegre. Mesmo se fores lançado em terras distantes, ou fores transferido para qualquer país bárbaro, aquela distância, qualquer que seja, te parecerá acolhedora”.
E veja só esta outra frase: “Mais importante não é o lugar, mas o estado de ânimo, pois o ânimo não se torna escravo de nenhum lugar.”
Pegou a ideia?
É claro que um lugar bonito, pessoas legais, gente amável, um emprego que te valoriza… É claro que tudo isso faz bem e é desejável.
Mas nada tem beleza ou sabor… Nada é simpático, acolhedor se nossa alma estiver pesada, se carregamos fardos de mágoa, de tristeza, de decepções, de vergonha.
Todos os dias, a vida nos proporciona uma carga generosa de situações negativas que nos afrontam, machucam. Se não nos livrarmos desse peso, seguiremos amargurados e ninguém e nenhum lugar será alegrador.
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Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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