Confesso que tenho certa dificuldade de lidar com alguns gurus da autoajuda e também certos palestrantes. Muitos deles parecem dizer que, se você não tem carro importado, não faz duas viagens internacionais por ano, não tem uma mansão num condomínio, a culpa é sua. Isso me incomoda!
Eu acredito, de fato, na autorresponsabilidade; defendo que sejamos protagonistas de nossa história. Mas também insisto que a gente não perca de vista a realidade. Não podemos agir como vítimas da história, mas a vida está longe de ser generosa com todas as pessoas. Precisamos ter isso em mente para sermos mais compreensivos com nossos insucessos e também com as dificuldades enfrentadas pelas outras pessoas.
Entretanto, encontrar o equilíbrio na balança da existência – entre os limites reais e a responsabilidade por nossos sucessos e fracassos – é o grande desafio. Ou seja, não dá para se punir quando as coisas não dão certo e tampouco se portar como vítima da história.
Dito isso, sustento que ler, ouvir e ver histórias inspiradoras são estratégias mentais importantes para nos motivar. Às vezes, tudo o que a gente precisa para reagir é saber de alguém que venceu um desafio e se tornou vencedor.
Por isso, quero compartilhar contigo três dicas:
Primeira: busque conhecer boas histórias. Elas nos ajudam demais! Seja seletivo e ouça, leia, veja histórias que podem motivar, inspirar, encorajar. Nossos pensamentos e até crenças são alimentados pelo que ouvimos ou vemos.
Quando vemos esse tipo de conteúdo, estamos preparando nossa mente para enxergar o mundo com positividade e fé.
Segunda dica: escolha boas referências e tome essas pessoas como inspiração. Mais do que ouvir, ler ou ver boas histórias, é fundamental ter algumas pessoas que sirvam de exemplo para você. Ainda que à distância, vale observá-las, saber sobre suas atitudes, escolhas e tê-las como exemplos.
Sabe por quê? Porque as histórias mexem conosco, mas não dizem muito sobre o que a pessoa fez para chegar onde chegou. Conforme você estuda a vida da pessoa, a trajetória dela revela muito mais do que um testemunho de cinco, dez minutos, ou em um podcast.
Além disso, a história sempre tem uma narrativa mais ou menos assim: a pessoa parecia um fracasso, vivia uma condição de impossibilidade e, por fim, com fé e determinação, virou a chave e alcançou o que queria. A narrativa é apropriada, mas a vida não é bem assim.
Afinal, mesmo após uma conquista, aquela pessoa segue ali, vivendo e enfrentando novos desafios. Por exemplo, o que ela ainda tem para nos ensinar quando acompanhava por semanas um filho na UTI de um hospital? Como reagiu? Onde encontrou forças? Teve dúvidas sobre a própria existência?
Ah… Cuidado com as histórias que são usadas para vender cursos, palestras, treinamentos, livros… Tem muito jogo de aparência nesse universo. Infelizmente!
Terceira dica: inspire-se em boas histórias, mas cuidado para não achar que todo mundo faz sucesso menos você. Este é um dos efeitos mais nocivos das histórias de sucesso. Muita gente olha às histórias, olha para sua vida e conclui: o problema sou eu.
Entenda, o sucesso em si sempre será bastante incomum e não segue regras; o sucesso é alcançado apenas por alguns milhares entre muitos milhões.
O filósofo Alain de Botton lembra que, em contraste com o que se mostra por aí, a maioria dos negócios fracassa, a maioria dos filmes não chega a ser realizada, a maioria das carreiras não é brilhante, o rosto e o corpo da maioria não chegam a ser perfeitamente belos, e quase todo mundo fica triste e preocupado boa parte do tempo.
Então, entenda, se isso (o que parece uma vida desastrosa) acontece com você, você é normal. As histórias inspiradoras nos ajudam a seguir lutando, a não estacionarmos, mas não indicam que a vida é simples, nem podem criar a ilusão de que basta virar uma chave para dar tudo certo e tampouco que, se seguirmos meia dúzia de regrinhas, vamos conquistar tudo o que sonhamos.
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Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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