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Sincler e a potabilização

Segundo mandato do prefeito João Paulino. O saudoso engenheiro Sincler Sambatti era ao mesmo tempo vice-prefeito e presidente do Serviço Autárquico de Água e Esgoto (antiga Codemar). Num certo dia ele resolveu convidar os jornalistas da cidade para uma visita às instalações da empresa, começando pela captadora no Pirapó.

     O rio estava cheio e bem barrento. “Algum de vocês teria coragem de beber essa água?”, perguntou ele. Claro que não. Passou então a explicar o processo de potabilização. “A água brota límpida da nascente em Apucarana, mas ao longo do curso vem se misturando com o solo e com impurezas diversas, inclusive agrotóxicos e restos de esgotos. Por isso, para ser consumida pelo ser humano, precisa passar por um complexo sistema de restauração da pureza”.

     Dali seguimos para a estação de tratamento, onde estavam os grandes tanques com os filtros etc., pelos quais a água passaria antes de ser distribuída à população. Ao fim ele abriu uma torneira e mostrou o líquido saindo limpinho: “É isso aí. Nosso trabalho é purificar a água para que vocês possam beber”.

    “Parece a história da humanidade”, comentei. Sincler sorriu, deu uma pensadinha, coçou o queixo, concordou: ” É… de fato parece”. E continuou a exposição.

     Dias após voltei a encontrá-lo. Ele disse: “Aquilo que você falou… Fiquei com aquilo na cabeça… Não é que parece mesmo?…”

     De repente estávamos os dois falando a mesma coisa – que a história da civilização tem um “script” bem parecido com a história de um rio. Ou seja: o ser humano entrou no leito dos tempos em estado de inocência; todavia, ante os tropeços da vida, foi perdendo a pureza original. 

     Hoje, como na metáfora agostiniana, temos um pé na cidade celeste, outro na cidade terrena. Somos trigo e joio. Temos virtudes e defeitos. O desafio é chegar ao final da jornada livres dos detritos acumulados no percurso.

     Aliás, a humanidade já foi bem pior. Já aceitou escravidão como algo normal. Já fez estátuas para “heróis” de guerra. Já aplaudiu carrascos. No estágio atual isso tudo é visto como absurdo – sinal de que aos poucos estamos progredindo. Há, porém, ainda, muita impureza a ser filtrada, muita imperfeição a ser corrigida, muita água a ser purificada.

     Falta, sim, muito ainda para completar-se a “potabilização”. Mas chegaremos lá.

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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