Em 1970, Jorge Sato e Sílvio Barros (pai) eram deputados estaduais – Sato pela ARENA, Sílvio pelo MDB. “Adversários cordiais”, conforme costumavam se definir desde quando conviviam e debatiam bravamente como vereadores.
Na época eu trabalhava na “Folha do Norte”. Num final de semana, o Dr. Sato, como habitualmente fazia, deu uma passada por lá para partilhar um cafezinho com o pessoal da redação. No meio da conversa eu lhe disse que viajaria a Curitiba na segunda-feira seguinte. Ele disse: “Então vamos juntos”, e me ofereceu carona.
Só na hora do embarque, quando ele estacionou em frente à minha casa, vi que a seu lado estava outro carona: o também deputado Sílvio Barros. Adivinhei que o papo durante o percurso seria somente política. No entanto, embora os dois pertencessem a partidos opostos, em momento algum perderam o bom humor.
Quem teve alteradas as batidas do coração fui eu. Nada, porém, a ver com política. O problema era o calafrio em cada curva, devido à assustadora velocidade.
Sabia que o Dr. Sato era um médico excelente, mas nunca o imaginara como aprendiz de chofer de Fórmula 1. Dando risadas ao volante do seu pomposo Sinca Chambord, ele parecia disposto a levantar voo. Sílvio, como piloto de avião, ria junto. Riam da minha cara de espanto.
A Rodovia do Café tinha ainda pista única de ponta a ponta, e estávamos justamente atravessando a área de maior perigo – aquele ziguezagueoso trecho de serras. Ao passar diante de Ortigueira, pedi que por favor me deixassem descer ali, que eu esperaria aparecer algum ônibus para concluir a viagem com tranquilidade. Riram mais ainda. Não me deixaram desembarcar, mas o motorista pé-na-tábua, dali por diante, maneirou um pouco. Teve até o carinho de fazer uma parada no Posto Imbaú e pagou uma rodada de pastéis.
Saudade deles. Dois políticos muito boa-gente, que deixaram marcas inesquecíveis no coração e na memória dos primeiros maringaenses.
Ambos pioneiríssimos na cidade. Sílvio Magalhães Barros, mineiro de Aiuruoca, chegou no início dos anos 1940. Foi agrimensor, piloto de táxi aéreo, professor no Aero Clube, depois empresário. Entre os seus primeiros alunos no curso de pilotagem estava uma jovem que viria a se tornar sua esposa, Dona Bárbara, uma das senhoras mais ilustres da história de Maringá.
Jorge Sato, médico, paulista de Lins, chegou no comecinho dos anos 1950. Em 1953, em parceria com sua esposa, Doutora Yakiho, também médica, inaugurou o Hospital São Francisco, onde ele se tornou conhecido e muito querido de toda a população e acabou trocando a medicina pela política.
Sílvio foi vereador, deputado estadual, deputado federal e prefeito. Morreu no dia 29 de janeiro de 1979. Sato foi vereador e deputado estadual. Morreu no dia 21 de fevereiro de 2006.
A. A. de Assis
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