A sensação que temos é que nunca, num mês de março, choveu tanto em Maringá, como neste ano, mas um amigo lembrou-nos que em 2013, também choveu quase todos os dias.
Os prejuízos materiais pelo excesso de chuvas, atingindo a agricultura do estado do Paraná , paradoxalmente são equivalentes aos causados pela seca no Rio Grande do sul, o que nos fez lembrar a letra de uma música de Tom Jobim, composta em 1972, segundo disse o autor, em um momento de muita tristeza, que estava sem esperança, bebia muito, reclamava que não era valorizado, se dizia deprimido. Eis o trecho inicial da letra:
‘É o pau, é a pedra, é o fim do caminho; É um resto de toco, é um pouco sozinho; É um caco de vidro, é a vida, é o sol; É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol; É peroba no campo, é o nó da madeira; Caingá candeia, é o matita-pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira; É o mistério profundo, é o queira ou não queira; É o vento vetando, é o fim da ladeira; É a viga, é o vão, festa da cumeeira; É a chuva chovendo, é conversa ribeira; Das águas de março, é o fim da canseira; É o pé, é o chão, é a marcha estradeira; Passarinho na mão, pedra de atiradeira.’
A propósito da frase ‘ é a chuva chovendo’, e a lembrança da seca, vejamos um texto:
‘Quando o sol parece castigar a terra com a intensidade dos seus raios, habitualmente, amados e desejados; quando os dias se sucedem, muito quentes, parecendo que a atmosfera se torna quase insuportável; quando a terra vai se abrindo em frinchas, parecendo gemer em sentimento de dor; quando as plantas se deitam sobre o solo, por não conseguirem manter a altivez, pela desidratação sofrida; quando parece que tudo queimará, secará, findará…
Pensamos nos campos semeados e nos perguntamos se os grãos conseguirão tomar forma, crescer e amadurecer, para abastecer as nossas mesas. Olhamos para as árvores e nos indagamos se haverá floração para que se transforme em abençoados frutos. Contemplamos os tímidos filetes d’água, aqui e ali, onde antes se agitavam caudalosos rios, povoados por peixes de variadas espécies.
Adiante, o leito seco deixa entrever as pedras nuas, brilhando ao sol, um tronco de árvore deitado, como quem se tivesse agachado para sorver uma última gota d´água do solo seco.
O abastecimento nas residências, fábricas e hospitais sofre interrupções, com danos para a indústria, a saúde, a higiene.
Então, quando o céu escurece e nuvens pesadas se apresentam, todos os olhos se fixam nelas. Aguardamos. Aguardamos a chuva que, por vezes, desaba forte, tempestuosa.
Seu primeiro objetivo é lavar a atmosfera para que se torne respirável, leve. E quando as águas atingem o solo, é uma sinfonia, um concerto inigualável de sons.
É o barulho da terra, sorvendo o líquido em largos goles, os rios desejando alargar as margens para a recepção mais ampla. As cascatas voltam a cantar, as fontes brilham. As plantas bebem por todas as dimensões de si mesmas.
Sentimos a leveza do ar, depois da chuva torrencial, e agradecemos pelo reabastecimento que se fará gradual, na constância da sua presença. Chuva, generosa chuva. Violenta ou branda, caindo mansa, é um benefício. Quanto dependemos dela.
Assim como a chuva, podemos nos tornar benefício para nossos irmãos. Com o frescor das nossas ideias cristãs, aliviar a sede de consolo e esperança, em almas ressequidas, que vivem a tensão de ambientes domésticos áridos.’
E completando este texto, da redação do Momento Espírita dizemos que como a chuva que suaviza a atmosfera, podemos abrandar a atmosfera de muitas vidas.
Como chuva mansa, sirvamo-nos da nossa voz para lhes balbuciar a canção do amanhã que surgirá, renovado. Derramemos consolo sobre algumas existências que gravitam ao nosso redor.
Imitemos a natureza, convertendo-nos em vida para nosso semelhante, como chuva generosa, sem descuidarmos da proteção das florestas, encostas e nascentes, enfim no meio ambiente.
Akino Maringá, colaborador
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