Se alguém me perguntar se acho melhor ser chamado de idoso ou de velho, responderei que de velho. Melhor ainda: velhinho. Simples questão de preferência. Da mesma forma, e por igual razão, pode a autora de poemas denominar-se “a poeta” ou “a poetisa”.
Fiz há algum tempo, via internet, em pesquisa informal cobrindo seis estados, a seguinte pergunta a 30 amigas que escrevem belos versos: – Você prefere ser tratada como “a poetisa” ou “a poeta”? – 14 disseram preferir “a poeta”, 9 “a poetisa”, 4 não responderam, e 3 se disseram indiferentes.
Na verdade, tal problema vem-se arrastando desde o início do século 19, quando surgiram em jornais e livros os primeiros poemas em língua portuguesa assinados por mulheres. Que nome dar a elas?
Poderiam os gramáticos e dicionaristas, já naquela época, ter acomodado o substantivo “poeta” no grupo dos chamados “comuns de dois gêneros”, em meio a tantos outros terminados em “a”: o acrobata – a acrobata, o diplomata – a diplomata, o artista – a artista, o pianista – a pianista, o atleta – a atleta, o carioca – a carioca, o colega – a colega.
Optaram eles, no entanto, pela formação do feminino mediante o acréscimo do sufixo “isa”, seguindo a linha dos nomes de cunho mitológico-religioso: diaconisa, pitonisa, profetisa, sacerdotisa. Assim entrou em circulação a forma “poetisa”, que até hoje perdura como feminino “oficial” de “poeta”. O Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa (1992),de Antônio Geraldo da Cunha, dá a palavra “poetisa“como “nascida” em 1813.
A partir, porém, da segunda metade do século 20, a forma “oficiosa” “a poeta” assumiu, como diriam os economistas, “viés de alta”. E em alta permanece, embora enfrentando ainda certa resistência, até de alguns gramáticos e dicionaristas, os quais, por prudência, costumam dar longo tempo ao tempo antes de assimilar novas tendências.
As duas formas – a poeta ea poetisa – têm seus defensores. A língua, entretanto, evolui naturalmente, e o que tem que acontecer acaba acontecendo. O “viés de alta” a favor de “a poeta” parece ser mais um desses fenômenos que ninguém consegue evitar. Fatores diversos concorrem nesse sentido, entre os quais os seguintes:
1. há mais de meio século o feminino “a poetisa” vem sofrendo um processo de depreciação semântica;
2. a lei do menor esforço incentiva a opção pela palavra mais curta;
3. a mídia, que influi fortemente nos hábitos linguísticos do povo, tem demonstrado nítida preferência por “a poeta”.
Resta esperar para conferir. A língua, ao longo do tempo, já resolveu problemas bem mais complicados, e esse aí não ficará sem solução. Hão de um dia chegarem todos a um consenso quanto à maneira de nos referirmos às autoras de poemas. Até lá, o que de fato importa é que escrevam bons versos. E isso elas sabem fazer muitíssimo bem.
A. A. de Assis
Foto – Reprodução