Participando de um grupo de estudos do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, na semana passada, chegamos aos seguintes textos, que nos fizeram lembrar, com o risco de cometer uma heresia, se comparássemos os personagens, à situação que vivemos na política brasileira desde 2018, lembrando de homens, cujo adiantamento moral não chega à metade da metade de um grão de mostarda, na comparação com o Mestre de Nazaré.
Eis os textos , com um resumo do comentário encontrado no capítulo XXIII:
1-Não penseis que eu tenha vindo trazer paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada; — porquanto vim separar de seu pai o filho, de sua mãe a filha, de sua sogra a nora; e o homem terá por inimigos os de sua própria casa. (S. Mateus, 10:34 a 36.)
2- Vim para lançar fogo à Terra; e que é o que desejo senão que ele se acenda? Tenho de ser batizado com um batismo e quanto me sinto desejoso de que ele se cumpra!
Julgais que eu tenha vindo trazer paz à Terra? Não, eu vos afirmo; ao contrário, vim trazer a divisão; — pois, doravante, se se acharem numa casa cinco pessoas, estarão elas divididas umas contra as outras: três contra duas e duas contra três. — O pai estará em divisão com o filho e o filho com o pai, a mãe com a filha e a filha com a mãe, a sogra com a nora e a nora com a sogra. (S. Lucas, 12:49 a 53.)
Será mesmo possível que Jesus, a personificação da doçura e da bondade, Jesus, que não cessou de pregar o amor do próximo, haja dito: “Não vim trazer a paz, mas a espada; vim separar do pai o filho, do esposo a esposa; vim lançar fogo à Terra e tenho pressa de que ele se acenda”?
Não estarão essas palavras em contradição flagrante com os seus ensinos? Não haverá blasfêmia em lhe atribuírem a linguagem de um conquistador sanguinário e devastador?
Não, não há blasfêmia, nem contradição nessas palavras, pois foi mesmo ele quem as pronunciou, e elas dão testemunho da sua alta sabedoria. Apenas, um pouco equívoca, a forma não lhe exprime com exatidão o pensamento, o que deu lugar a que se enganassem relativamente ao verdadeiro sentido delas.
Tomadas ao pé da letra, tenderiam a transformar a sua missão, toda de paz, noutra de perturbação e discórdia, consequência absurda, que o bom senso repele, porquanto Jesus não podia desmentir-se. Jesus vinha proclamar uma doutrina que solaparia pela base os abusos de que viviam os fariseus, os escribas e os sacerdotes do seu tempo. Imolaram-no, portanto, certos de que, matando o homem, matariam a ideia e as luzes da razão.
Infelizmente, os adeptos da nova doutrina não se entenderam quanto à interpretação das palavras do Mestre, veladas, as mais das vezes, pela alegoria e pelas figuras da linguagem. Cabe a culpa à doutrina do Cristo? Não, decerto que ela formalmente condena toda violência. Quando Jesus declara: “Não creais que eu tenha vindo trazer a paz, mas, sim, a divisão.”, seu pensamento era este:
“Não creais que a minha doutrina se estabeleça pacificamente. Ela trará lutas sangrentas, tendo por pretexto o meu nome, porque os homens não me terão compreendido.
Os irmãos, separados pelas suas respectivas crenças, desembainharão a espada um contra o outro e a divisão reinará no seio de uma mesma família, cujos membros não partilhem da mesma crença. Mas à guerra sucederá a paz; ao ódio dos partidos, a fraternidade universal; às trevas do fanatismo, a luz da fé esclarecida.
Cansados, afinal, de um combate sem resultado, que consigo traz unicamente a desolação e a perturbação até ao seio das famílias, reconhecerão os homens onde estão seus verdadeiros interesses, com relação a este mundo e ao outro. Todos então se porão sob a mesma bandeira: a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra, de acordo com a verdade e os princípios contidos nos ensinamentos do Cristo.’
Sem comparação, encerro. Pensar em Bolsonaro ou Lula seria heresia e blasfêmia.
Akino Maringá, colaborador
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