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Ouve, porque houve

            Ouve o que digo, falou-me a voz da consciência:  ‘Pare de discutir sobre política nas redes sociais, porque houve nos últimos anos, a partir de 2018, sobretudo, uma mudança. Pessoas que antes ouviam para dialogar, hoje só ouvem e leem   o que estiver de acordo com suas ideologias. Houve uma profunda divisão na sociedade brasileira e não adianta argumentar, pois são poucos o que ouvem.

         Fizemos essa introdução, com um jogo de palavras entre ouve e houve, que têm o mesmo som, mas a segunda, algumas vezes é grafada equivocadamente sem a letra ‘h’. Nossa intenção é refletirmos sobre um texto, cujo título é: Ouve, que talvez possa nos fazer pensar sobre a volta de uma convivência civilizada:  

          ‘Ouve o sussurro reconfortante, do vento nos ramos do salgueiro. Ouve os estalos d’água da fonte solitária, vertendo pureza e servindo sem o saber. Escuta o recital da asa branca, profundo e rouco atrás de um par que a aceite. Escuta o canto simples das cigarras, ecoando na floresta em noites de verão.

Percebe o bater transparente das asas do beija-flor, frenéticas, quase oitenta vezes, num único segundo. O rufar do trovão à distância, anunciando novo movimento na sinfonia do céu. Descobre a complexa canção das baleias, correndo grandes distâncias na imensidão marinha. Observa a areia regendo as vagas no calar da noite. Nenhum compasso se repete, uma pauta sem fim.

Ouve o coração acelerado de quem acabou de voltar ao mundo, na ânsia de ser mais. Ouve! A música do Grande Compositor está em todo lugar. Desperta e ouve! Mas, ouve com atenção, pois, a voz da beleza,  falava um grande sábio, a voz da beleza fala baixo…

Camille Flammarion, importante astrônomo e pesquisador psíquico francês, assim se expressou, com propriedade: ‘Na da vida, a mão do Criador inteligente e previdente se revela aos olhos que sabem verdadeiramente ver. Na dúvida estude a natureza, que tem harmonias para a alma, quadros para o pensamento, tesouros para as ambições do Espírito e ternuras para as aspirações do coração. Sim, ela os tem, porque não nos é estranha. Somos um com ela.

Fazemos parte da grandiosidade do Universo. Somos parte dessa natureza encantadora que cada dia nos surpreende com suas habilidades, perfeições e mistérios. Precisamos aprender a nos conectar melhor com tudo isso.’

A vida moderna nos privou do contato mais constante com os outros seres vivos. O verde passou a ser visto enquadrado em poucas paredes, quando nos permitimos construir janelas. Areia, grama, pássaros passaram a ser atrações eventuais e não mais convívios diários.

A beleza continua estuante ao nosso redor, por vezes, praticamente gritando: Estou aqui. Mas, não temos tempo, ânimo e interesse. Curioso ver o ser humano doente, agoniado, ansioso, inseguro, com o remédio claramente ao seu lado. A conexão com a natureza tem poder terapêutico, acalma, ensina sobre a paciência, dá lições de persistência.

Que possamos nos permitir mais momentos de vida na natureza. Que, assim como outros bons hábitos diários, acrescentemos os momentos de contemplação, a visita e os cuidados com um jardim, namorar o canto de alguns pássaros. Percebamos esta vida maior que nos envolve. Percebamos a quão grande e bela é a Criação Divina e que fazemos parte dela com muita honra e alegria.’

A este texto, adaptado, do Momento Espírita, completamos com resumo de reflexão de Emmanuel, em 1952, e que serve para voltarmos ao assunto da introdução deste texto:

Existem velhas fermentações de natureza mental, que representam tóxicos perigosos ao equilíbrio da alma. Não guardemos, portanto, o fermento velho no coração. Cada dia nos conclama à vida mais nobre e mais alta. Reformemo-nos, à claridade do Infinito Bem, a fim de que sejamos nova massa espiritual a serviços de Jesus.

Devemos ouvir e ver mais, falando menos, pois O Criador houve por bem dotar-nos de dois ouvidos e dois olhos e apenas uma boca. Quem ama ao próximo respeita suas opiniões, ainda que discorde delas.

Akino Maringá, colaborador
Foto – Reprodução

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