Há momentos em que nos percebemos como um porto seguro para alguém que parece nos procurar somente quando está em apuros, seja por um favor, um conselho ou simplesmente por um ombro amigo. Lidar com essa situação pode ser complexo, e entender como abordá-la sem nos sentirmos explorados ou magoados é uma questão que merece reflexão cuidadosa.
Antes de entrar no cerne da questão, gostaria de lançar luz sobre um ponto crucial: em nossa sociedade atual, marcada por ritmos acelerados e exigências crescentes, é natural que as pessoas busquem ajuda apenas quando se encontram sob intensa pressão. Nesse contexto, a interação social pode parecer reduzida a pedidos de socorro, visto que o tempo para interações mais leves e descontraídas tornou-se escasso.
Além disso, um estudo publicado na renomada “Revista de Personalidade e Psicologia Social” da Associação Americana de Psicologia sugere que as pessoas frequentemente subestimam o quão dispostos os outros estão para ajudar. Isso leva a uma relutância em buscar apoio, alimentada pela crença de que o pedido será rejeitado ou mal interpretado. Pedir ajuda pode ser desconfortável ou até mesmo gerar humilhação, então, quando as pessoas recorrem a essa opção, é porque realmente estão em uma situação desesperada.
Porém, em meio a todas essas circunstâncias, encontramos indivíduos que parecem desprovidos de bom senso, demonstrando um comportamento interesseiro e oportunista – o que, infelizmente, é bastante comum. Esse comportamento não se limita a um ambiente específico, mas permeia diversas esferas, seja no trabalho, na família ou no círculo de amizades.
As pessoas interesseiras, do ponto de vista psicossocial, são aquelas que apresentam dificuldades em se preocupar com os sentimentos e necessidades dos outros, tendendo a priorizar seus próprios interesses e benefícios. Elas podem recorrer a várias estratégias para obter o que desejam, incluindo manipulação, sedução e até chantagem.
O questionamento que se impõe é: por que elas agem dessa maneira? A explicação pode ser múltipla e complexa. De acordo com alguns psicólogos, como o Dr. David Hawkins, essas pessoas podem ter uma baixa autoestima e uma carência afetiva intensa. Sentindo-se inadequadas e desvalorizadas, dependem do reconhecimento e da aprovação dos outros para construir uma sensação de valor e pertencimento.
Elas podem também estar constantemente buscando a atenção e o reconhecimento daqueles que admiram ou dos que podem oferecer algo em troca. Temem profundamente o envolvimento emocional e, como mecanismo de defesa, optam por manter relações superficiais e fugazes.
Para conviver de maneira saudável, é importante aprender a identificar essas pessoas interesseiras. Algumas características a observar incluem:
Primeira: Elas tendem a entrar em contato somente quando necessitam de algo ou quando estão em dificuldade.
Segunda: Raramente demonstram um interesse genuíno pela nossa vida, nossos sentimentos ou nossos problemas.
Terceira: Mostram-se pouco gratas pelo que recebem e raramente retribuem os favores ou as gentilezas.
Quarta: Exibem mudanças bruscas de atitude conforme a conveniência e frequentemente não são leais ou confiáveis.
Quinta: Falam mal dos outros pelas costas e podem nos trair se isso lhes for vantajoso.
Diante de tais comportamentos, como devemos agir? Aqui vão algumas sugestões:
Estabeleça limites claros e aprenda a dizer não quando necessário. Não permita fazer coisas que vão contra os seus princípios ou que prejudiquem a sua saúde ou o seu bem-estar.
Seja assertivo e expressivo. De maneira respeitosa, comunique como se sente quando percebe que a pessoa te procura apenas por interesse e solicite uma mudança de comportamento.
Considere o valor do relacionamento. Alguns relacionamentos, apesar de serem desequilibrados, podem ter uma importância específica em sua vida. No entanto, se um relacionamento lhe causar mais dor do que alegria, pode ser a hora de reconsiderá-lo.
Evite se deixar levar pela culpa ou pela pena. Ajudar os outros é um gesto nobre, mas se você estiver se sentindo usado ou amargurado por não estabelecer limites, essa ação pode estar prejudicando mais do que ajudando.
Lembre-se de que você é o principal responsável pela gestão das suas emoções. Navegar por relações desequilibradas pode ser um desafio, mas com sabedoria, resiliência e autoconhecimento, é possível fazê-lo. Mantenha-se focado em seu crescimento pessoal e veja cada interação como uma oportunidade de aprendizado e evolução.
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Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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