O que aconteceria se confrontássemos a realidade da nossa própria mortalidade de maneira franca e direta, ao invés de a negarmos? Será que a consciência da morte nos impulsionaria a viver cada dia com mais determinação e propósito, em vez de procrastinarmos as tarefas e os objetivos que sabemos que temos de alcançar?
Dias atrás, enquanto percorria as páginas de um dos livros do respeitado rabino Harold Kushner, me deparei com uma afirmação impactante. Ele salienta que a maioria de nós vive como se a morte não fosse uma realidade incontornável. E, por essa razão, procrastina viver. Em outras palavras, quem não leva a morte a sério, abre mão da vida em sua plenitude.
A renomada psiquiatra suíça, Dr.ª Elizabeth Kübler-Ross, famosa pelo seu inestimável trabalho sobre a morte e o morrer, corrobora esta tese. Ela assevera: “É, em parte, a negação da morte que leva as pessoas a terem vidas vazias e sem propósito; pois quando vivemos como se fôssemos viver para sempre, torna-se demasiado fácil procrastinar as coisas que sabemos que temos de fazer.” Ela sugere que a morte não nega o significado das nossas vidas, mas, ao contrário, a morte contribui para definir a essência das nossas existências.
E sabem de uma coisa? Eu concordo plenamente com isso. Só adiamos as tarefas para amanhã porque temos a ilusão de que o amanhã está garantido. Raramente paramos para pensar em possibilidades como: posso sofrer um acidente amanhã e não ter a chance de fazer aquilo que planejei.
Eu cito a possibilidade de um acidente, pois lembro vividamente da manhã em que sofri um. Graças a Deus, estou aqui para compartilhar a história, mas há quase dois anos minha vida mudou drasticamente e as limitações físicas se tornaram uma realidade para mim.
Na manhã em que sofri o acidente, eu tinha acabado de sair da academia. E enquanto deixava o local, estava a fazer alguns planos em minha mente. Mal sabia eu que, em menos de 30 minutos, todos os planos que havia feito não seriam colocados em prática. Aqueles planos ainda estão em minha mente, mas foram abruptamente interrompidos pelo acidente.
A vida é assim. A vida é o agora. O que deixamos para amanhã é apenas uma projeção, um plano que pode ser interrompido em menos de um minuto.
Os filósofos Sêneca e Epicteto propuseram que, ao aceitarmos a morte como uma parte inescapável da vida, somos incentivados a apreciar cada momento e a viver cada dia como se fosse o último. Para eles, a morte não é um destino amargo, mas um lembrete para se viver plenamente.
Esta perspectiva também é ecoada nos escritos do filósofo Albert Camus e do psiquiatra Viktor Frankl. Camus propugnava que a conscientização da morte deveria nos impulsionar a viver com maior intensidade. Por sua vez, Viktor Frankl, sobrevivente do Holocausto, sustentava que o sentido da vida pode ser encontrado mesmo em meio às circunstâncias mais terríveis.
Portanto, o que esses pensamentos nos ensinam? Se quisermos viver de maneira plena, devemos reconhecer e aceitar a nossa própria mortalidade. Não devemos temer a morte, mas sim, acolher a sua inevitabilidade como uma parte integral da existência humana. Ao fazer isso, podemos parar de procrastinar e começar a viver cada dia como se fosse único e precioso.
Por fim, gostaria de deixar algumas dicas que podem ser valiosas:
Reserve um tempo para refletir: Faça uma pausa todos os dias para ponderar sobre a efemeridade da vida. Isso pode ajudá-lo a discernir o que realmente importa e motivá-lo a perseguir seus objetivos.
Identifique o seu propósito: Procure algo que traga significado à sua existência. Pode ser um trabalho, um hobby, um relacionamento pessoal, uma causa pela qual você luta. Não tente abraçar tudo. Viva aquilo que realmente ressoa em seu ser.
Viva o presente: Esforce-se para viver cada momento de maneira plena e consciente. Apreciar a vida como ela é, com todas as suas imperfeições, pode ajudá-lo a experienciar mais profundamente cada dia.
Não procrastine: o amanhã não existe garantido. O momento perfeito pode nunca chegar.
Pegou a ideia? Lembre-se, devemos encarar a morte, não como um fim aterrorizante, mas como uma professora silenciosa que nos instrui a viver uma vida mais significativa.
Como o filósofo Sêneca sabiamente disse: “Não é que tenhamos pouco tempo, mas que perdemos muito.” Portanto, não desperdice a vida. Aproveite-a!
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Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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