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Pilates mental

Dia desses uma senhora me ligou, meio acanhada, perguntando quanto eu cobraria para escrever uma crônica sobre o avô dela, um dos primeiros moradores de Maringá. Respondi que nutro grande admiração e respeito pelos nossos pioneiros, homens e mulheres de altíssima qualidade, mas não tenho condição de falar de todos eles; por isso tenho escrito apenas sobre alguns com os quais tive ou ainda tenho alguma forma de convivência.

     Expliquei também que durante cerca de 30 anos atuei profissionalmente em jornais e revistas, porém hoje ninguém me paga nada pelo que escrevo; faço esta coluna semanal por três motivos: 1. pelo prazer que me traz, 2. por ser um modo de me sentir útil e 3. como uma forma de terapia.

     Com 90 anos, tenho consciência de que já estou na gorjeta de Papai do Céu; bem por isso, na esperança de permanecer mais algum tempo entre vocês, procuro seguir mais ou menos à risca o que o juízo manda. A cada seis meses vou lá na clínica do querido amigo médico Dr. Paulo Frascarelli fazer uma revisão geral na máquina. Ao final daquela costumeira bateria de exames, ele me dá um tapinha no ombro e renova as recomendações de praxe – manter uma alimentação prudente, beber bastante água, caminhar um pouco todo dia, fazer ginástica, tomar alguns minutos de sol etc. Na despedida acrescenta, rindo: “Sobretudo continue escrevendo bastante, que isso é bom demais para a saúde”. 

     Creio que tal receita sirva para todos os velhinhos como eu. Assim como o corpo precisa ser exercitado, a cabeça também precisa. É o que chamo de “pilates mental”. Meu gosto pela arte de escrever facilita as coisas: enquanto espremo a mente na produção de uma crônica ou de uma trova, a engrenagem cerebral funciona a toda e com isso “enferruja” menos. Além disso, a concentração do pensamento naquilo que estou escrevendo não deixa espaço para grilos.

     Sei que nem todos têm como hobby a literatura, no entanto há muitas outras formas de massagear os neurônios, ou seja, muitos meios de não dar moleza à massa cinzenta. Tenho vários amigos idosos que estão sempre alegres, serelepes, com o raciocínio permanentemente alerta, e imagino que isso se deva ao recreio mental que costumam praticar.

      Há, por exemplo, os que gostam de jogar truco, xadrez, damas. Pensem no quanto a cabeça deles trabalha durante as horas que passam numa roda de amigos tentando um ganhar do outro. Saem dali felizes da vida, ninguém reclamando de cansaço ou dor nas costas, muito menos se queixando de que anda esquecendo os nomes das pessoas e das coisas.

      Há também muitas senhoras com mais de 90 anos que, por conta das suas atividades mentais, continuam numa boa. Estão sempre lendo alguma coisa, vendo televisão, ouvindo música, fazendo bordados ou palavras cruzadas. Outras ainda participam de trabalhos sociais voluntários. O importante é estar o tempo todo com a cabeça ocupada.

     Daí que, enquanto conseguir fazê-lo, continuarei brincando de tecer letrinhas

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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