Início Maringá Justiça Restaurativa é levada a escolas de Maringá

Justiça Restaurativa é levada a escolas de Maringá

Um projeto da rede municipal de ensino de Maringá mostra para as crianças a importância do diálogo para resolver conflitos. A ideia surgiu a partir da Justiça Restaurativa, onde vítima e agressor ficam frente a frente, com o intuito de se conciliar.

O exercício da paz envolve alunos e professores sempre unidos em um círculo. “Em círculo nós somos todos iguais, não há juiz, não há professora, não há aluno, são pessoas. Pessoas importam. Ele tem o objetivo de unir as pessoas, de conectar. Quando a gente se conecta, a gente passa a respeitar o outro. Quando a gente respeita, a convivência se torna mais fácil”, diz a coordenadora do Núcleo de Justiça Restaurativa, Silvana Valin.

Dessa forma, é um momento em que uma comissão de adultos capacitada trabalha o diálogo com as crianças. Frente a frente, elas podem falar de assuntos que muitas vezes incomodam, causam dor e dificultam a convivência na escola. Assim, é possível diminuir os conflitos, situações de agressões e violências.

“Tanto as crianças como os adultos, eles passam a conversar mais sobre aquilo que machucam eles, como o que é que você fez que me deixa triste, então, eu não fico acusando você, eu vou dizer: olha, eu não gostei da forma que você falou comigo. Eu me sinto discriminada, eu acho que isso que você fez comigo posso chamar de bullying, eu não gostei, gostaria de ser tratado com mais respeito. Então, a gente aprende a pedir o que a gente deseja”, complementa Silvana.

O desembargador Leoberto Brancher do Tribunal de Justiça gaúcho foi um dos primeiros a instituir a Justiça Restaurativa e incentivar a adaptação para as escolas. “A essência de Justiça Restaurativa tem a ver com a ideia de diálogo, de encontro, de reestabelecer ou estabelecer conexões de lógicas entre as pessoas. O reconhecimento do outro em uma fala de escuta completa, paciente e ativa vem do judiciário, porque lá no extremo da ruptura das relações em situações criminais que se aprende a necessidade que essas conexões aconteçam e as metodologias que se podem utilizar para essas situações que são as mais críticas, as mais desafiadoras. É partir dessa experiência que nós trazemos as técnicas de diálogo, técnicas estruturadas para as escolas, e isso contribui não apenas no sentido da solução de conflito, mas também na integração de equipe de trabalho, interação entre famílias e corpos docentes, no posicionamento das comunidades escolares, no fortalecimento de laços que são vitais.”

Em Maringá, o programa que criou os círculos da paz se tornou lei, sendo um dos primeiros municípios do país a praticarem a Justiça Restaurativa em toda a rede municipal, envolvendo 40 mil alunos em 117 escolas.

De acordo com a secretária de Educação, Nayara Caruzzo, a escola é um ponto de acolhimento. “As crianças passam grande parte do seu dia na escola. Então nada mais importante do que além do ensino de todas as ciências, a gente conseguir que as crianças possam ser elas mesmas, que elas possam entender os sentimentos e as emoções que estão tendo e assim a lidar com eles”, afirma.

Além disso, a intenção não é só resolver conflitos, mas promover a paz permanente nas escolas. Os alunos aprendem a saber ouvir. “Hoje ninguém consegue mais parar para ouvir o outro, e em um círculo, já parou para pensar 20 crianças falando e eu ter que esperar 19 falar para eu falar? Então olha o treinamento, aprender a esperar a sua vez. Controlar a ansiedade, a gente também trabalha a questão emocional”, explica a coordenadora do Núcleo de Justiça Restaurativa, Silvana Valin.

O lobo e a girafa são grandes aliados do projeto, que auxiliam na hora conversar com as crianças. Em vista disso, em grande parte das escolas o resultado dos círculos da paz já aparece.

Segundo a diretora Aretuza Conejo, o bullying dentro da escola tem diminuído. “Hoje as crianças conseguem ouvir mais, esperar para não apresentar nenhuma atitude de violência com o coleguinha. É assim também com nossos professores, podemos ouvir, saber como estão e eles também passam para os próprios alunos.”

Katryne Arruda Couto de 9 anos relata o que mudou com o projeto. “Mudou o comportamento e a educação. Agora cada um sabe o que pode fazer, ser educado com os outros e ouvir as pessoas para ter menos briga”, afirma.

Maynara Guapo
Foto – Reprodução

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