Inspirado no poema “Por quem os sinos dobram”, do imortal John Doone (posteriormente popularizado em romance por Ernest Hemingway), escrevi recentemente sobre a tristeza que nos envolve quando um de nós se despede desta vida. A propósito do texto, a escritora Majô Baptistoni, minha brilhante colega na Academia de Letras de Maringá, comentou: “É bem assim que me sinto cada vez que recebo a notícia da partida de alguém. Mas ao mesmo tempo me ponho a pensar nos que foram antes, e que devem estar felizes por receber essa pessoa. É nisso que me apego”.
Pois é, Majô, pensando bem, deve ser mesmo bem assim. Lágrimas aqui, alegria lá. Enquanto parentes e amigos choram no velório, no plano celestial outros parentes e amigos da mesma pessoa estão a seu modo celebrando o reencontro. A mãe que fazia tempo se distanciara do filho. O marido que partira na frente e agora voltava a ter ao lado a esposa. Enfim o tão esperado recomeço da convivência entre irmãos, primos, compadres, vizinhos; colegas de escola, de trabalho, de clube; companheiros de atividades religiosas; parceiros de viagens, bate-papos, truco, pescaria, esportes diversos.
Aqui as lágrimas do adeus; lá em cima, no hall do céu, aquele alvoroço festivo na chegada de mais um dos que aqui por mais algum tempo tiveram que permanecer.
Mas como será o relacionamento em dimensão espiritual? Difícil de imaginar. Aqui nos identificamos pelo tamanho do corpo, pelo formato do rosto, pelo som da voz. Lá em cima, fora do invólucro físico, seremos invisíveis, tais quais os anjos. E então?…
Penso que nos entenderemos telepaticamente, todos num mesmo idioma – a linguagem do puro amor. Porém de que falaremos? E poderemos conversar diretamente com Jesus, Nossa Senhora, Santa Rita, São Francisco de Assis? Teremos encontros de famílias? Reuniões de grupos? Formaremos equipes, congregações, coros, jograis? Como será cantar no céu?
Ninguém lá precisa estudar, nem trabalhar, nem cozinhar, nem mesmo dormir. Como então são preenchidas as horas? Há algum tipo de ocupação? Algum tipo de brincadeira?
Todavia, os que na eterna urbe já se encontram decerto rezam bastante. Junto com os anjos e os santos, por algum meio acompanham os que continuamos peregrinando neste agitado planeta e fazem por nós poderosas orações. É uma forma de nos ajudarem.
A bem-aventurança, pelo que a fé nos leva a crer, é uma condição de vida incalculavelmente superior a tudo o que possamos imaginar, porém certamente não foi projetada apenas para uns poucos privilegiados. Chegará um momento em que toda a humanidade passará a viver em permanente estado de felicidade.
Daí a compreensível convicção de que os que nos antecederam celebram com enorme alegria a chegada de cada um de nós que a eles se une para a partilha da infinita paz.
A. A. de Assis
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