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Perdão ou desculpa?

Fui convidado a falar sobre um tema evangélico , com o título: ‘Perdoai, para que Deus vos perdoe’, e ao aceitar pensei numa introdução, antes de adentrar ao tema, com foco em perdão, na palestra  sob a ótica, da doutrina espírita.

         Ocorreu-me começar pela diferença entre perdão e desculpa, pois às vezes confundimos as duas palavras. Perdão é algo sentido, elaborado. Já desculpa decorre de uma situação apreendida, de educação, praticada de imediato, diz Angela Mathylde, colunista de O Estado de Minas.

         A primeira ação necessária para se perdoar é o outro declarar-se culpado e se arrepender. Arrependimento é, muitas vezes, expressado pelo termo “desculpa”. Essa palavra tem origem grega e significa conversão, tanto espiritual, como intelectual, mudança de direção de atitudes.

         Perdoar não quer dizer conviver, porque quem erra, pode errar novamente, inclusive a própria pessoa. Arrepender-se é uma oportunidade para libertação dos “pecados” e uma chance para receber o perdão e se perdoar. O arrependimento torna possível o crescimento espiritual, embora possa gerar uma sensação de fracasso, associada a um sentimento de culpa.

         Voltemos ao tema proposto, para refletirmos a partir de três passagens evangélicas: 1. Bem-aventurados os que são misericordiosos, porque obterão misericórdia. (S. Mateus,5:7.).2. Se perdoardes aos homens as faltas que cometerem contra vós, também vosso Pai celestial vos perdoará os pecados; – mas, se não perdoardes aos homens quando vos tenham ofendido, vosso Pai celestial também não vos perdoará os pecados. (S. MATEUS,6:14e15.).3. Se contra vós pecou vosso irmão, ide fazer-lhe sentir a falta em particular, a sós com ele; se vos atender, tereis ganho o vosso irmão. – Então, aproximando-se dele, disse-lhe Pedro: “Senhor, quantas vezes perdoarei a meu irmão, quando houver pecado contra mim? Até sete vezes?”-  Respondeu-lhe Jesus: “Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes.” (S. MATEUS, 18:15, 21 e 22.)

Aprendemos que a misericórdia é o complemento da brandura, e aquele que não for misericordioso não poderá ser brando e pacífico. Consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e o rancor denotam alma sem elevação, nem grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada, que paira acima dos golpes que lhe possam desferir. Uma é sempre ansiosa, de sombria suscetibilidade e cheia de fel; a outra é calma, toda mansidão e caridade.
            Um Espírito Superior afirmou: Ai daquele que diz: nunca perdoarei. Esse, se não for condenado pelos homens, sê-lo-á por Deus. Com que direito reclamaria o perdão de suas próprias faltas, se não perdoa as dos outros? Jesus nos ensina que a misericórdia não deve ter limites, quando diz que cada um perdoe ao seu irmão, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes.
            Há, porém, duas maneiras bem diferentes de perdoar: uma, grande, nobre, verdadeiramente generosa, sem pensamento oculto, que evita, com delicadeza, ferir o amor-próprio e a suscetibilidade do adversário, ainda quando este último nenhuma justificativa possa ter; a segunda é a em que o ofendido, ou aquele que tal se julga, impõe ao outro condições humilhantes e lhe faz sentir o peso de um perdão que irrita, em vez de acalmar; se estende a mão ao ofensor, não o faz com benevolência, mas com ostentação, a fim de poder dizer a toda gente: vede como sou generoso! Nessas circunstâncias, é impossível uma reconciliação sincera de parte a parte. Não, não há aí generosidade; há apenas uma forma de satisfazer ao orgulho. Em toda contenda, aquele que se mostra mais conciliador, que demonstra mais desinteresse, caridade e verdadeira grandeza d’alma granjeará sempre a simpatia das pessoas imparciais.

E para concluir, perdão e desculpas são palavras quase opostas. Para o perdão é necessário, em geral, o dolo. Desculpa aplica-se a um ato falho, sem intenção. Boas desculpas não precisam de perdão.

Akino Maringá, colaborador
Foto – Reprodução

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