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Peladas

 O atual brasileirão está indefinido, quanto ao campeão e os dois últimos rebaixados, faltando duas rodadas  do fim do campeonato.

 Na segunda-feira, o Corintians estava ameaçado de rebaixamento, então fiz a seguinte postagem:’ Não sei se coloco vírgula, após o não, na frase: Não gostaria que o Corinthians caísse. Dentre os comentários, destaco o do santista Messias Mendes: ‘Como palmeirense que é ,não tenho dúvida de que colocaria a vírgula’

 Eis que na terça-feira, uma vitória sobre o Vasco, praticamente salvou o ‘timão’, deixando a ameaça para o Santos então postei: ‘  Salvo o Corinthians, ainda bem, pois um  campeonato sem o timão seria menos emocionante.Então, quem deve ser o quarto rebaixado, já que nem todos os Santos livram o Goiás?

Eu disse todos os Santos, Messias, mas Pelé, que agora pode voltar a jogar invisivelmente, talvez … Entre Cruzeiro e Vasco, é possível que o primeiro seja ‘castigado’ pelos pecados de um passado recente,mas… .

Quanto ao provável campeão, se não for o  Palmeiras, que seja o Botafogo, como um milagre de Garrincha, Nilton Santos, Didi e outros craques, que precisam reencarnar para que o Brasil volte a ter o melhor futebol do Planeta e não uma seleção de peladas, como a atual.

Não fosse a modéstia, diria que Armando Nogueira, pensaria o mesmo e que talvez eu apenas estivesse psicografando texto ditado por ele, mesmo  não sendo médium, sabendo que todos somos.

Reconheço minha incapacidade  para captar, na íntegra, um texto do ilustre botafoguense que  escreveu  crônicas como esta:

‘Esta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa: agora, é uma babá que passa, empurrando, sem afeto, um bebê de carrinho, é um par de velhos que troca silêncios num banco sem encosto.

E, no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho: “Eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tô com o joelho ralado de ontem; vou ficar aqui atrás: entrou aqui, já sabe”. Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto de uma suada vaquinha. Oito de cada lado e, para não confundir, um time fica como está; o outro joga sem camisa.

Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula.

Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quica no meio-fio, para de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho. Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: “Copa Rio-Oficial”, “FIFA – Especial”. Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!), jamais seria barrada em recepção do Itamaraty.

No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha.

Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craque como aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura.

Nova saída. Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de camisas.

O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar. Em cada gomo o coração de uma criança’.

Nossas reverências ao mestre Armando Nogueira. Akino Maringá, colaborador

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