O fracasso de muitos relacionamentos começa quando as pessoas idealizam seu parceiro ou parceira.
Idealizamos coisas, e relacionamentos também são construídos sob expectativas. Estas estão presentes em tudo: antes, durante e até depois do relacionamento. Sim, porque até quando o romance acaba, algumas reações são desejadas.
Antes de o relacionamento começar, muita coisa passa pela cabeça. A mente humana é incrível e criativa, trabalhando sob perspectivas reais e imaginárias. O mundo ao redor, relacionamentos conhecidos ou vividos apenas no cinema ou em séries famosas, dão cor e tom aos nossos desejos.
Pintamos o sujeito ideal, a garota perfeita. O parceiro tem gestos previstos, palavras encantadoras e atitudes admiráveis. Na mente, a pessoa amada está pronta. Ela até tem defeitos, pois o cérebro nos lembra que todos têm, mas em nossos sonhos, esses defeitos não incomodam. São silenciados por um comportamento nobre, digno de alguém que sabe amar e valorizar a pessoa amada.
Vez ou outra, a garota conhece alguém… E, de longe, vislumbra tudo o que desejou. Ou, quem sabe, pelo menos algo que pareça ser a resposta às suas preces.
— Dessa vez, não vou errar — diz ela.
Talvez ele seja bonito, tenha um ótimo papo, um humor capaz de tirar um sorriso mesmo nos dias ruins.
Parece perfeito. A concretização das expectativas. É hora de se entregar.
No entanto, nem sempre tudo sai como previsto no script idealizado. Por vezes, as expectativas são frustradas, e o relacionamento dos sonhos torna-se apenas mais um na lista de decepções.
Às vezes, a pessoa por quem se apaixonou nem era das piores, mas as expectativas geradas eram tão grandes que atendê-las estava acima das possibilidades do outro.
Ao longo dos últimos 15 anos, já escrevi e falei sobre relacionamentos exigentes, as chatices cotidianas e até mesmo sobre a idealização do romance. Entretanto, noto que, num tempo em que os compromissos são frágeis e as bases dos relacionamentos são egoístas, encontrar gente que ama de verdade é raro.
Por isso, o coração se sente solitário, vazio, infeliz… O envolvimento é superficial, e o amor não é praticado. Nas primeiras dificuldades, quando o príncipe vira sapo e a princesa vira “Fiona” (quem assistiu à animação “Shrek” vai entender), tudo perde a graça. Os defeitos ganham visibilidade, e não demora para que a pessoa diga que o amor (que nunca existiu de fato) acabou.
Acho as expectativas necessárias para termos referências do tipo de relacionamento almejado. Mas as idealizações nos afastam da realidade. Elas são o resultado dos nossos desejos, daquilo que queremos para nós. Idealizações ignoram o outro e suas contradições, porque pessoas são falhas… E nos frustram, decepcionam e não conseguem atender a tudo o que gostaríamos de ter na pessoa amada.
A verdadeira essência de um relacionamento real reside na aceitação das imperfeições do outro, uma realidade frequentemente ofuscada pelas narrativas de amor idealizadas que permeiam nossa sociedade.
Em vez de buscar incessantemente uma fantasia, os parceiros deveriam aprender a valorizar a beleza da realidade, onde o amor não é apenas um sentimento, mas uma prática diária de compreensão e paciência.
Em um relacionamento genuíno, não se trata de encontrar a pessoa perfeita, mas sim de ver a perfeição na imperfeição, de crescer junto, de aceitar que cada um tem suas falhas e que isso não apenas é normal, mas também uma oportunidade de desenvolvimento mútuo.
Em vez de nos lamentarmos pelas expectativas não atendidas, devemos refletir sobre o que cada experiência nos ensina sobre amor, respeito e compaixão. A aceitação do presente, a gratidão pelo que temos e a disposição para aprender com nossas experiências transformam a maneira como vivenciamos nossos relacionamentos.
Com isso, nos abrimos para amar de forma mais autêntica e significativa, deixando de lado as idealizações que apenas geram decepções e abrindo espaço para um amor verdadeiramente enriquecedor e real.
Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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