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Felicidade não dá manchete

O garoto entrou na redação do jornal pedindo emprego. Queria ser repórter. O chefe da equipe quis ter ideia de até que ponto ele teria jeito para a coisa. Perguntou: “O que você considera notícia?” O menino, fazendo pose, respondeu de bate-pronto: “Bem… se uma escola for construída, isso não será notícia. Mas se houver um temporal e a escola for destruída, aí, sim, será notícia”.

     Foi contratado. Demonstrou saber o que se convencionou que todo repórter deve ter em mente: que felicidade não dá manchete.

     Isso pode causar espanto e tristeza à primeira vista; contudo, se bem analisarmos, é até um bom sinal. É uma prova de que o lado ruim da vida continua sendo exceção. Fatos comuns não chamam a atenção. Logo, se as coisas boas não aparecem com frequência na mídia, é porque elas existem mais do que as ruins.

     Meia dúzia de jovens apronta uma tremenda confusão na cidade e a isso os jornais, o rádio e a televisão dão grande destaque. Mas raramente se fala dos milhares de rapazes e moças que estudam seriamente, trabalham, praticam esportes, ajudam na assistência social, participam de encontros de formação. A exceção é que se faz notícia. Isso significa que, em regra, os jovens são ótimos.

     Pegue qualquer jornal, principalmente de cidade grande: as maiores manchetes falam de conflitos, sinistros, crimes, coisas assim. Enquanto as notícias de fatos positivos, quando aparecem, estão escondidas em cantinhos de páginas. Felicidade não dá manchete.

     Construída uma nova ponte: isso não é notícia de destaque. Uma ponte desmoronou: manchete de primeira página. As coisas ruins mexem mais com a curiosidade dos leitores, ouvintes e telespectadores justamente porque são mais raras que as boas.

     O mundo está melhorando, e muito. A gente é que não fica sabendo. Há muitos cientistas nos laboratórios descobrindo novos medicamentos para alongar a vida humana. Há muitos homens e mulheres trabalhando por puro amor nas obras assistenciais. Há muitos jovens preparando-se para ser no futuro excelentes cidadãos. Se a mídia quisesse, preencheria suas pautas apenas com notícias animadoras. Mas isso não dá ibope.

     Os comunicadores, queiram ou não, precisam mostrar as barbaridades do mundo. Assaltos, acidentes, guerras, São esses assuntos que o público parece gostar de ver, porque fogem à normalidade da vida. Mas enquanto as coisas boas não forem manchete, poderemos estar certos de que elas existem muito mais do que as ruins.

     O garoto vai fazer sucesso em sua carreira. Sabe que, lamentavelmente, felicidade não dá manchete. Não é culpa dele que a realidade seja essa. Um dia, quem sabe, algum jornal possa estampar na primeira página: “Enfim impera da paz”.

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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