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O pijama

Men wearing pajamas

Nos outroras da vida, os homens eram vidrados em pijamas. De noite, depois do banho, os varões da casa vestiam o listrado, jantavam, sentavam-se numa cadeira de vime, as mulheres ao lado fazendo tricô, os compadres e vizinhos em volta contando casos, falando de política, de negócios, eventualmente de futebol, ou contando anedotas de papagaio.

     Esnobar um pijama elegante, tecido fino, com o monograma bordado no peito, era um luxo de truz. Havia, claro, quem reparasse nisso, dizendo que pijama era coisa íntima, para usar no quarto de dormir, e não para se ficar vestido nele na sala, diante de senhoras e das visitas.

     Mas os guapos janotas não resistiam à tentação de embrulhar-se na macia indumentária e tirar proveito das noites de verão para os seus compridos papos.

     Com o tempo essa moda foi acabando. Porém existem ainda alguns amantes do conforto que até hoje não conseguem entender o ato de dormir sem o simultâneo ato de se empijamar. Até para a cochilada após o almoço, quinze minutos que sejam, acham indispensável trocar a calça e a camisa pelo pijama, sem o qual o repouso não parece repouso.

     Ouvi falar de um que todo dia, no meio da tarde, fechava a sala dele no escritório por dez minutos e se empijamava para tirar uma pestana.

     O mais ilustrativo, entretanto, é o caso de um ultracaprichoso muito simpático que morou durante alguns anos em Maringá. Um bem-humorado engenheiro, bastante conhecido, cujo nome vou omitir por mera e óbvia discrição. Quem me contou a história foi um amigo dele, que viajou em sua companhia num roteiro turístico pela Europa.

     Para ganhar tempo, quem sabe também para economizar um pouco evitando pagar diárias de hotéis, costumavam deslocar-se à noite de um país para outro em ônibus-leito.

     Acontece que, assim que o ônibus partia e se apagavam as luzes, o engenheiro abria a pasta 007, pegava um pacote muito bem arrumadinho e se trancava no sanitário de bordo. Voltava minutos depois vestido num belo pijama.

     O companheiro de viagem, conhecedor das suas idiossincrasias, começava logo a fazer gozação e inevitavelmente os demais passageiros acabavam também botando cara de ponto de exclamação. Numa dessas ocasiões, até o ajudante do motorista veio lá da cabine perguntar se estava havendo algum problema.

     O ilustre, contudo, nem te ligo. Esticava a poltrona, dava boa noite, cobria-se com o cobertor e roncava em dó sustenido, como se estivesse em casa. “Isto não é um carro-leito? Pois é, se é leito, é pra gente dormir… e se é pra dormir tenho que vestir pijama”.

    Certo ele? Claro que sim. Não sei se eu teria a coragem de fazer a mesma coisa, mas fica aqui a ideia para o primeiro desinibido que for viajar de leito para São Paulo ou Balneário Camboriú. Creio que não haja nenhuma lei proibindo o uso de pijama no ônibus.

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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