É muito provável que o leitor que se interessou pelo título do texto, e começou a lê-lo, não seja um filósofo, pois assim como o autor, não tem formação em filosofia.
Filosofia, segundo os dicionários, é a atividade do pensamento. Razão da existência humana, conjunto das reflexões particulares que buscam entender a realidade, a partir da razão. Reunião das regras ou princípios básicos que norteiam a vida prática. Sabedoria. Reunião dos conhecimentos ou ideias de uma pessoa.
Sendo assim, é possível dizer que todos podemos ser considerados filósofos, e é com base da filosofia que vamos buscar responder à questão proposta no título, pois é muito comum dizermos que temos saudades de um tempo que não volta mais, quando ouvimos uma música que marcou a nossa juventude, por exemplo.
Há quem diga que saudade, com o significado que lhe atribuímos, seja uma palavra que só existe na língua portuguesa. Mas segundo Fernando Martins, em artigo para a Gazeta do Povo, é um termo que compartilhamos com nossa língua-irmã da diminuta Galícia, no noroeste da Espanha, e não deixa de ser raríssimo e complexo. Foi eleita a sétima palavra mais difícil de ser traduzida dentre todos os vocábulos de todas as línguas. Afinal, exprime num único termo uma sensação tão inexplicável.
Recordação significa o que está guardado na memória, que se lembra de uma experiência de uma situação já vivida. O que traz uma lembrança de alguém, de um lugar. Etimologicamente vem do latim recordatio.onis.
O que me levou a propor essa reflexão filosófica foi o compartilhamento de sua amiga, em sua rede social, de uma música dos Pholhas, uma banda brasileira que fez muito sucesso nos anos 70, com músicas em inglês, e que foi muito tocada nos bailes do Matec, em Mandaguaçu, por um conjunto de Apucarana-PR, chamando Apollus Band, e nos traz boas lembranças naquela época.
Na postagem, com o clip da música, minha amiga escreveu: ‘saudades de um tempo que volta mais’’. Pensei, e fiz o seguinte comentário: ‘Talvez volte, ainda melhor’, lembrando, naturalmente, da reencarnação, mas fiquei encafifado de que não se tratava de saudades, mas sim de boas recordações, pois quando penso em saudade, quase sempre é com sentimento de tristeza, melancolia, uma situação quase depressiva, e não era o caso. Aquela música nos fez voltar, instantaneamente, há cerca de 50 anos e reviver momentos maravilhosos, ainda que em pensamento, recordando, e como diz o poeta, recordar é viver.
Saudades, pensei, talvez se aplique à ausência física de entes queridos, que retornaram ao Mundo Espiritual, mas mesmo desses devemos guardar as boas recordações e evitarmos usar o verbo perder, em frases como : ‘eu perdi meu pai, o meu filho’.
Aqui recorremos a filosofia espírita para entendermos como agir, como nos conta Susana Rodrigues e texto publicado no site aetec.org.br:
A verdade da imortalidade da alma e a certeza do reencontro futuro traz um alento aos corações cheios de saudade. Mas, ainda assim, são muitas as nuances envolvidas, e cada caso é um caso. No livro Vivências de Amor em Família, Divaldo Franco nos diz: “Há dores para as quais não há palavras. A morte é um desses dramas”.
Conta a história de uma mãe teve um bebê que nasceu com problema sério de saúde e aos 5 anos, a criança sofreu muito e veio a entrar em coma, na UTI. A mãe, então, fez uma prece muito sentida a Deus, pedindo que acontecesse o que fosse melhor para seu filho. Claro que essa mãe queria que o filho se recuperasse, mas ela pediu a Deus o que fosse melhor para seu filho, e não para ela. A criança veio então a desencarnar.
Aquela mãe, digo eu, não perdeu o filho, que continua vivo no mundo dos espíritos, apenas não o viu mais com os olhos físicos. Natural que sinta saudades e a palavra se aplica melhor nesse caso.
Concluindo, às vezes confundimos boas recordações com saudades. E dizer que o tempo de nossa juventude não volta mais, pode não ser uma verdade absoluta.
Akino Maringá, colaborador
Foto – Reprodução