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Mil anos de português

Foi mais ou menos assim: os romanos chegaram à península Ibérica (onde estão hoje Espanha e Portugal) no século 3o a.C.  Na época, a região era habitada pelos celtiberos, comunidade formada pela fusão dos celtas, vindos da Europa central, e iberos, provavelmente originários do norte da África. O latim vulgar, trazido pelos soldados romanos, foi imposto como língua oficial, porém acabou assimilando parte do vocabulário e outras marcas do sotaque e da sintaxe dos povos colonizados. Com o passar dos tempos, consolidou-se como língua geral da península o espanhol, que adotou como padrão o dialeto de Castela e por isso ficou também conhecido como castelhano.

     Por volta do ano 1000, ninguém mais falava a antiga língua de Roma, a partir de então mantida apenas em documentos científicos e nos cantos e orações da Igreja. Há até quem por isso diga que o latim morreu de parto, no momento em que dele nascia a filha caçula, a língua portuguesa –  “última flor do Lácio”. 

     Na costa ocidental da península Ibérica, ouvindo o murmurar do Atlântico, desenvolvia-se uma bonita região conhecida como Lusitânia – a que Camões chamou de  “o mais belo jardim da Europa à beira-mar plantado”. Falava-se ali, no alvorecer do segundo milênio (portanto há cerca mil anos), o que hoje denominamos português proto-histórico, formado a partir do antigo dialeto galaico-português.

      Em 1095, Afonso VI, rei de Leão e Castela, instituiu na Lusitânia o Condado Portucalense. Sensibilizado pela colaboração que vinha então recebendo do nobre francês Henrique de Borgonha na luta contra os mouros, deu-lhe o rei  por  prêmio a mão de sua filha Dona Teresa, e com a noiva o governo do Condado. Em 1139, Dom Afonso Henriques, filho e sucessor de Henrique de Borgonha, proclamou a independência do Condado e sagrou-se primeiro rei de Portugal.

     A essa altura já se falava, e começava a aparecer escrito, o português arcaico, assim considerado desde o século 12 até o início do século 16. Dessa época se guardam documentos de precioso valor histórico, tais como as cantigas dos trovadores, novelas de cavalaria, as crônicas de Fernão Lopes e o teatro de Gil Vicente.

    Mas foi somente a partir de Luís de Camões que a língua assumiu suas características definitivas. Com “Os lusíadas” inaugurou-se o português moderno.

     Daí por diante, lendo Vieira, Camilo, Eça, Machado, Pessoa, Bandeira, Drummond, nós lusófonos (Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor Leste, São Tomé e Príncipe – cerca de 230 milhões de falantes) tivemos apenas de acompanhar a evolução natural do idioma até alcançar a forma atual.

     Enquanto Seu Lobo não completa a globalização, continuaremos gostosamente a dar o nosso recado em português…

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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