Você já notou que, quase sempre, achamos que tudo o que temos é insuficiente? Talvez, já no início do dia, o nosso primeiro pensamento seja: “não dormi o suficiente”. O pensamento seguinte, quem sabe, seja parecido: “não tenho tempo suficiente”.
A noção de insuficiência nos ocorre de modo automático, antes mesmo que pensemos em questioná-la ou examiná-la.
Passamos a maior parte das horas e dos dias ouvindo, explicando, reclamando ou nos preocupando por não termos o suficiente disto ou daquilo.
Não nos exercitamos o suficiente. O trabalho não é bom o suficiente. Não temos dinheiro suficiente. Não temos lucros suficientes. Não temos poder suficiente. Não temos espaço suficiente. Não temos fins de semana suficientes.
Já notou que, vez ou outra, repetimos essas ideias?
Não temos dinheiro suficiente… nunca. Não somos magros o suficiente, não somos inteligentes o suficiente, não somos bonitos o suficiente, não somos sarados nem instruídos nem bem-sucedidos nem ricos o suficiente…
Antes mesmo de nos levantarmos da cama, antes que nossos pés toquem o chão, já somos inadequados, já ficamos para trás, já estamos perdendo, já nos falta alguma coisa – alguém já nos superou, já fez mais do que nós.
Sempre nos faltará alguma coisa.
A escritora Brené Brown, ao citar essa constante insatisfação que nos perturba, menciona que lidar com a escassez não significa buscar a abundância, mas optar por uma mentalidade de suficiência.
Nunca alcançaremos a suficiência plena. É claro que talvez a falta realmente exista e seja um problema. Mas, frequentemente, trata-se de uma mentalidade em que o contentamento parece nunca estar presente.
Por isso, em qualquer situação, temos a opção de recuar e abandonar a mentalidade de escassez.
Suficiência não se trata de uma medida. Suficiência não tem a ver com quantidade. Suficiência “é uma experiência, um contexto que geramos, uma declaração, a noção de que existe o bastante e que somos suficientes”.
“A suficiência é uma consciência, um estado mental, uma escolha intencional de nosso modo de pensar sobre nossa situação”, diz Brené Brown. Trata-se de uma atitude diante da vida. Uma atitude, inclusive, de gratidão!
Uma atitude necessária. Sabe por quê?
Porque, se alimentamos a ideia de insatisfação – falta de horas para dormir, falta de tempo para o trabalho, falta de condições para a realização de um sonho… Se persistirmos nessa ideia, o que começa como uma simples expressão da vida corrida, ou mesmo da vida difícil, cresce até se transformar na grande desculpa para uma vida sem realização – uma vida sem propósito, vazia.
Vou repetir: se persistirmos na lamentação de que sempre nos falta alguma coisa, isso se tornará a justificativa para uma vida pequena, uma vida sem realizações e, principalmente, uma vida infeliz.
Sugiro a leitura do livro “A arte da imperfeição: Abandone a pessoa que você acha que deve ser e seja você mesmo”, de Brené Brown.
Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação