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Levando em frente

Talvez as perguntas mais frequentes nas relações  sociais sejam: Como vai? Como está? E uma terceira, que induz a resposta: Tudo bem?   Quase sempre queremos ouvir um ‘ tudo bem’, primeiro porque qualquer pessoa normal deseja a outra esteja bem, e segundo porque geralmente são poucos os que têm tempo para conversar com quem diz que  está com problemas.

      Mas há respostas que estão fora desse padrão e lembro de papai, seu Dorisvaldo, baiano de Arapiranga, que com 04 anos de idade, em 1933, veio para Alfredo Marcondes- SP, e  contava que viajou num lombo de burro, por mais de 60 dias, que respondia, quando lhe eram feitas tais perguntas: ‘assim, regular’, e fazia um gesto com a mão direita espalmada para baixo’, balançando-a

      Papai nunca estudou e  poderia ser considerado  quase analfabeto, mas tinha tiradas filosóficas em falas que para mim ficaram como verdadeiras lições de vida, como por exemplo, para  encerrar discussões infrutíferas, sem razão de ser, em que apenas se quer ter razão.

 Não necessariamente só por esse motivo, quando mamãe insistia em discussões sobre algum assunto, até com razão, ele dizia: ‘você tem razão e eu lhe passo a minha toda’. Era uma forma de dizer: ‘você  fica com toda razão’, ´porque se eu tinha alguma lhe passo’.

      Voltando às questões iniciais , a resposta de nosso pai ( 09 filhos), ‘assim, regular’, ou seja, nem bem, nem mal, talvez represente  o que foi  a sua última  existência  aqui na terra, encarnado, onde teve momentos bons, outros não tão bons, alguns difíceis, mas na média pode-se dizer que foi regular, dentro do que é possível nesse mundo de provas e expiações. Retornou ao mundo espiritual a poucos dias de completar 80 anos, com uma morte suave, como queria, sem dar trabalho para ninguém, como dizia que gostaria.

 Eu, como o primogênito, o primeiro neto paterno e materno, às vezes, perguntado, respondo: ‘vamos levando’, querendo significar ‘levando em frente’, o que nos faz lembrar da letra de uma verdadeira obra prima de Renato Teixeira, música de Almir Sater: Tocando em frente.

 O palestrante espírita, Simão Pedro, comentando a letra dessa música disse que  é um verdadeiro tratado existencial:’ Ando devagar, porque já tive pressa, levo esse sorriso, porque já chorei demais’: Por que andamos  devagar? Por que andamos de pressa e não deu certo. Sorrimos porque já choramos demais.  Ou seja, fizemos de eu jeito e  deu errado.

‘Hoje me sinto mais forte, mas feliz quem sabe.  Só levo a certeza de  que muito pouco eu sei, eu  nada sei’. Olha que pensamento ‘socratiano’, diz Simão Pedro. Chegou à conclusão que está certo, a certeza que está incerto,  que nada sabe. Tem muito para aprender.

Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs (..) Um refrão belíssimo, que quer dizer que é preciso ter discernimento, saber o verdadeiro sentido das coisas, saber diferenciar.

Como um velho boiadeiro, levando a boiada, eu vou tocando os dias, pela longa estrada, eu vou, estrada eu sou.  Veja a inversão dos verbos. Boiada não se leva, boiada se toca. Estrada eu vou, quando estou aprendendo. Estrada eu sou, quando estou ensinando. Um dia a gente chega, e no outro vai embora. É o que chamamos que impermanência. Tudo do mundo é impermanente, a única coisa permanente do mundo é a própria impermanência. Cada um de nós compõe a sua história (…)

E concluímos lembrando de outra música, ‘Heal The World’, de Michael Jackson, cuja letra nos convida a  olharmos para dentro de nós mesmos, reconhecermos o amor, usando-o para transformar o mundo ao nosso redor, nos importando com a vida e o bem-estar dos outros.

Também aborda a necessidade de pararmos de prejudicar a Terra e uns aos outros, sugerindo que a humanidade tem o poder de reverter os danos causados e restaurar a graça do mundo.

Que, num futuro próximo,  seja desnecessário perguntar, como vai, pois teremos a certeza que todos estaremos bem, na terra. Até lá, vamos levando em frente, devagar, mas não muito.  

Akino Maringá, colaborador
Foto – Reprodução

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