O poeta Mário Quintana escreveu: ‘Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas.’
O pequeno texto , no entender do jurista Luiz Flávio Gomes, já falecido, em publicação de 2019, é um exemplo histórico de desistência honrosa de um objetivo não conseguido, legado do poeta gaúcho , que viveu em hotéis boa parte da existência física , terminada em 1994.
Por três vezes, o poeta concorreu a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras e não conseguiu seu objetivo. Sua brilhante reação foi escrever este poema : ‘Todos esses que aí estão atravancando o meu caminho. Eles passarão. Eu passarinho’.
Ocorreu-me que, à luz da Doutrina Espírita, o trecho, ‘moro em mim mesmo’, encerra uma verdade, pois todos que estamos encarnados, ou vivos como prefere a maioria, moramos em nós mesmos. Somos um Espírito ( ou Alma), palavras que têm o mesmo significado para na filosofia espírita, apenas diferenciando assim: Alma no corpo, Espírito sem corpo físico, que estamos vivendo num corpo físico. A questão é saber se o corpo é, para a Alma, morada ou prisão.
No Livro dos Espíritos encontramos nas questões 400 e 401, no capítulo ‘O sono e os sonhos’, respostas dos Espíritos Superiores a perguntas de Alan Kardec, o seguinte : P.: O Espírito encarnado permanece de bom grado no seu envoltório corporal? R.: “É como se perguntasses se ao encarcerado agrada o cárcere. O Espírito encarnado aspira constantemente à sua libertação, e tanto mais deseja ver-se livre do seu envoltório, quanto mais grosseiro é este.”
P.: Durante o sono, a alma repousa como o corpo? R.: “Não, o Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos. ”
Por essas respostas, digo eu, podemos concluir que o corpo é uma prisão para a Alma, que se liberta, parcialmente, durante o sono, pois permanece ligada ao envoltório corpóreo pelo cordão de prata, também conhecido como cordão fluídico ou fio de prata, um filamento fluídico que liga o corpo físico ao períspirito, que é o corpo espiritual, do espírito encarnado. O cordão de prata é fundamental para a vitalidade do organismo, pois transmite energia vital para o espírito. Ele também serve como veículo sensorial e alerta para o espírito, caso precise retornar ao corpo. Sem essa ligação, sem o cordão de prata, quando ele rompe, acontece a morte física.
Mas ao mesmo tempo o corpo é a vestimenta, a habitação do Espírito, nós somos o Ser, o habitante que dele se serve bem ou mal. Podemos ler na epístola de Paulo aos Coríntios o seguinte “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” – Coríntios, 6:19-20. Devemos entender o “Espírito Santo”, das versões modernas da Bíblia, como o “Espírito” das versões originais.
Não devemos viver em função do corpo. A ideia é o corpo como um santuário que permite ao Espírito (que somos nós) todo o gênero de vivências e aprendizagens enriquecedoras que contribuirão para sairmos de cada existência física mais fortalecidos no bem, detentores de maior dose de conhecimento, mais moralizados, mais aptos a viver a nossa espiritualidade em toda a plenitude. É o que nos diz Maria de Lurdes Duarte, em artigo no site oconsolador.com.br.
Finalizando, o corpo é a morada do espírito, que vive, numa espécie de ‘prisão domiciliar’, com direito de liberdade para sair, geralmente à noite, quando dormimos, e pode trabalhar, estudar, tendo o livre arbítrio para fazer o bem ou mal, usando como ‘tornozeleira eletrônica’ o cordão de prata, automonitorado pelo períspirito (corpo espiritual).
Akino Maringá, colaborador
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