![kardec](https://i0.wp.com/www.maringamais.com.br/wp-content/uploads/2025/02/kardec.jpeg?resize=640%2C360&ssl=1)
Richard Simonetti, escritor espírita renomado, contou-nos que em várias oportunidades um confrade fez uma enquete com a seguinte pergunta: O que está você fazendo na Terra? A maioria não soube responder.
E concluiu que considerável parcela da humanidade não sabe, nem quer saber por que cargas d’água estamos neste bólido celeste, que é a Terra, viajando à velocidade de 108 mil quilômetros por hora em torno do Sol. Pior: não se preocupa com sua ignorância. Assim, poucos aproveitam as oportunidades de edificação que a reencarnação nos oferece.
Se nem mesmo sabem por que nasceram, por que vivem, e o que vai lhes acontecer portas adentro do túmulo, fica difícil cumprir os objetivos da jornada humana, a partir do princípio elementar de que ninguém está aqui em jornada de férias. O resultado dessa displicência é o comportamento materialista, o comer, vestir, dormir, trabalhar, procriar, divertir-se, em lamentável marca-passo espiritual.
A Doutrina Espírita explica que não há retrocesso para o Espírito. Nossos patrimônios intelectuais, morais e espirituais, jamais se perdem. Por concessão da Bondade Divina, o que somos hoje, fruto de nossas aquisições no pretérito, em milênios, é inalienável. Construímos um patrimônio que está nos arquivos do inconsciente, a repercutir em nosso comportamento, maneira de ser, vocação, aptidões…
O problema é o estacionamento, o interromper o processo evolutivo com a inércia, a ausência de iniciativa, de empenho por aprender, crescer, conquistar novos patamares. Isso costuma acontecer com o homem comum, muito preocupado com o próprio bem-estar, nada interessado em questões que ultrapassem os limites do imediatismo.
Onde passar o feriado prolongado, como pagar o cartão de crédito estourado, questionar a contratação de um jogador de futebol, escolher a marca de cerveja, acompanhar a novela de destaque, criticar o governo… Esses são alguns dos temas que centralizam suas cogitações, sem tempo nem espaço para algo menos prosaico, mais metafísico, por exemplo, definir como veio parar nesse atribulado planeta.
Diz Montaigne (1533-1592): O proveito dos estudos consiste em nos tornarmos melhores e mais sábios. O grande escritor francês estava certíssimo. O empenho de aprender e desdobrar conhecimentos, alarga nossos horizontes, desenvolve nossa capacidade de percepção, faz-nos crescer em inteligência, cultura e entendimento, para que a jornada humana não seja para nós um exercício de estagnação.
E há um detalhe ponderável, decorrente do comportamento estacionário: imaginemos alguém atravessando uma selva sem conhecer a topografia da região, a extensão da mata, as fontes de água… Viagem atribulada, difícil, perigosa. É exatamente o que acontece com o homo sapiens, quando não exercita sua condição, negligenciando a sapiência, visão comprometida pela ignorância, a tropeçar em suas próprias mazelas.
Mas não basta o conhecimento. Há muita gente de grande cultura precipitando-se nos resvaladouros do vício, do materialismo, da corrupção, da violência, da maldade… A cultura mal orientada é tão ou mais perniciosa do que a ignorância. Por isso, se é importante estudar, aprender as coisas do mundo em que vivemos, como recomenda Montaigne, igualmente importante é conhecer as coisas do mundo para onde iremos quando batermos as botas.
Isso só o Espiritismo pode fazer por nós, mostrando-nos uma ampla visão do mundo espiritual, onde está nossa verdadeira pátria. Conscientiza-nos, a Doutrina, de que somos seres imortais, destinados à perfeição, no desdobrar de incontáveis existências neste mundo e em outros, convocados ao aprimoramento incessante.
Sobretudo, ficamos sabendo que sem esse esforço estaremos resvalando para a estagnação, onde sempre proliferam a indisciplina, o vício, o desregramento, de funestas consequências. Por isso, é bom estarmos atentos à máxima atribuída a Allan Kardec: Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.
Akino Maringá, colaborador
Foto – Reprodução