
Quem nunca teve medo de errar? A sensação de fracasso pode ser avassaladora. Muitas vezes, preferimos ficar na zona de conforto, repetindo as mesmas soluções e evitando qualquer passo que pareça arriscado. Mas, ao tentar evitar o erro a qualquer preço, podemos acabar impedindo a própria criatividade.
É o que destaca David Eagleman, autor de “Como o Cérebro Cria”: quando um ambiente não tolera falhas, ele também não permite a ousadia, o experimento, o diferente. É bem simples de entender — se cada tentativa diferente for castigada, as pessoas deixam de testar novas possibilidades, e o espaço para descobertas deixa de existir.
Isso vale não só para quem está começando um negócio, mas para qualquer projeto ou processo criativo. Em empresas veteranas, com décadas de história, a rigidez pode enraizar uma cultura de “fazemos assim porque sempre deu certo”. Só que o mundo gira e, sem a abertura para experimentar, um produto ou serviço pode se tornar obsoleto sem que a companhia perceba a tempo. O temor do erro, nesses casos, não só inibe a inovação, mas gera uma paralisia que pode custar caro no futuro. Aparentemente, o custo de arriscar às vezes é bem menor que o custo de não se mover.
Carol Dweck, no livro “Mindset”, também chama atenção para esse ponto. Ela diz que as pessoas com uma mentalidade fixa veem o fracasso como uma comprovação de incapacidade. Já quem adota a mentalidade de crescimento enxerga o fracasso como parte do processo de aprendizado.
E não há como falar de criatividade sem falar de tentativas que não dão certo. Afinal, muitas das grandes inovações começaram como pequenos testes, cujos resultados iniciais eram confusos ou pareciam fadados ao insucesso. Se cada ideia fosse descartada no primeiro tropeço, será que teríamos chegado aos computadores pessoais ou aos smartphones?
Nas histórias de empreendedores, é comum ouvir relatos de protótipos que não funcionaram, de clientes que não deram o feedback esperado, de recursos que acabaram mais rápido do que se planejava. Entretanto, muitas vezes é nesse tropeço que nasce a luz: um ajuste na rota, uma descoberta inesperada ou um novo mercado a explorar.
Mesmo empresas estabelecidas, que já atingiram certo patamar de sucesso, precisam relembrar que se acomodar em fórmulas antigas não é garantia de longevidade. O erro, quando analisado, revela caminhos que antes não estavam no nosso radar.
Claro, ninguém defende a “irresponsabilidade criativa”. Não é sobre jogar recursos fora ou ignorar planejamento. O ideal é ter processos que permitam arriscar de forma consciente, mensurar resultados e reconhecer o momento de mudar de rota. A chave está na cultura de tolerância ao erro — e na rapidez em aprender com ele.
Ambientes em que cada fracasso vira motivo de punição tendem a sufocar qualquer esforço para inovar. Já contextos onde falhar é admitido (embora não glorificado) e, depois, se analisa o que aconteceu para tomar um novo rumo, incentivam soluções criativas.
Vale também considerar a dimensão pessoal disso tudo. Não é fácil admitir falhas diante da equipe, de investidores ou mesmo da família. Muitas vezes, o que dói não é o erro em si, mas o medo de ver nossa imagem arranhada. A mentalidade de crescimento propõe que a gente troque a mentalidade de “sou um fracasso” pela ideia de “deu errado, e agora vou refletir para descobrir onde posso melhorar”. Essa mudança de perspectiva exige maturidade, mas libera espaço para o crescimento.
Ronaldo Nezo