
Com uma das menores taxas de recusa à doação de órgãos do país, apenas 14%, o Hospital Universitário de Maringá (HUM) se tornou referência no acolhimento e orientação de famílias em momentos de perda.
Um desses casos é o da maringaense Roseli Placedina Pires, que, em 2007, autorizou a doação dos órgãos do filho após a perda do filho Alex Gravino Pires, 21 anos, vítima de um acidente de motocicleta na Avenida Colombo. A decisão, tomada em meio à dor, contrasta com a média nacional, em que 45% das famílias ainda recusam a doação, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). “Não pensamos duas vezes. Só nos olhamos e dissemos: ‘pode doar tudo’. Para onde ele vai, junto de Deus, não vai precisar”, relembra a mulher e o marido.
O gesto de doar os órgãos do filho salvou outras vidas e, mais de uma década depois, Roseli se viu na posição de quem precisava ser salva. Diagnosticada com insuficiência renal, iniciou hemodiálise e entrou na fila por um rim compatível. Transplantada em 2017, segue em tratamento e hoje atua como capelanista hospitalar em Maringá, ao lado do marido.
DESTAQUE
Rosane Almeida, enfermeira da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT) do HUM, explica que o alto índice de doações de órgãos no Paraná é resultado de um trabalho contínuo de acolhimento e esclarecimento com as famílias, iniciado desde a chegada do paciente. A equipe busca desmistificar o processo e criar um espaço de escuta para garantir decisões conscientes.
Os mitos mais comuns sobre a doação, como o receio de descaracterizar o corpo ou a impossibilidade de velório com caixão aberto, são esclarecidos pela equipe, o que reduz as inseguranças das famílias. No Paraná, a CIHDOTT atua em 62 comissões, e, embora a vontade do paciente seja importante, a autorização final depende da família.
Rosane enfatiza que o diálogo aberto sobre o tema facilita a decisão. Em casos excepcionais, a autorização pode ser dada judicialmente, como ocorreu com filhos adotivos. Roseli Placedina Pires, que autorizou a doação de órgãos de seu filho, defende a prática: “Se eu pudesse deixar uma mensagem, seria essa: doem. A vida de alguém pode depender disso. E um dia, pode ser a sua”.
Da Redação
Foto – Reprodução