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Castigo ou terapia?

“Não vim para condenar, mas para salvar”, disse Jesus com máxima clareza. Para os seus
seguidores, isso significa que o autor de um malfeito não deveria ser visto como “criminoso”
ou “pecador”, mas como um enfermo que precisa ser tratado e curado.
Todos sabemos o quanto é difícil seguir essa lição à risca. “Amar o inimigo”, “perdoar
setenta vezes sete”… Será que chegaremos algum dia a tão alto nível de amadurecimento
espiritual?

Seria preciso, antes, passarmos todos por um longo processo de revisão de conceitos.
A sociedade é vingativa. Hoje menos do que há alguns séculos, mas continua vingativa.
Ainda há quem defenda a lei do talião (olho por olho, dente por dente). Em numerosos lugares
ainda se adota a pena de morte (fuzilamento, câmara de gás, cadeira elétrica). Na maioria dos
países se aplica a pena de prisão, como forma de punir e isolar os condenados e
supostamente “assustar” outras pessoas que se sintam tentadas a cometer delitos.

Mas será que algum dia se trocará a justiça punitiva pela justiça terapêutica?
No contexto religioso a pregação predominante defende o acolhimento em vez do castigo –
ajuda espiritual, psicoterapia, tentativa de ressocialização. Porém nem mesmo nesse meio a
adoção concreta do “Estatuto do Amor”, ensinado e posto em prática por Jesus, tem sido fácil.

Imagine-se então quanto tempo será necessário até que a sociedade como um todo
consiga acatar como norma o generoso hábito de tratar os autores de malfeitos mais como
vítimas do que como culpados. Ou seja: não como indivíduos perversos que, por opção
consciente, se dedicam a cometer múltiplas formas de crimes, mas como pessoas
desajustadas que agem por impulso de distúrbios mentais resultantes de algum acidente no
parto, algum desvio congênito, algum trauma, ou por Influência do ambiente em que viveram
sua infância e juventude.

Curar, em vez de punir, seria sim o ideal. Mas seria isso viável?
Na aplicação da justiça, a predisposição de castigar malfeitores seria substituída pelo
empenho em sará-los. As penitenciárias seriam transformadas em clínicas de reajustamento
comportamental e seus quadros de servidores teriam menos policiais e mais psicólogos,
psiquiatras, psicanalistas, professores.

Por mais perigoso que fosse o “paciente”, haveria de ser possível encontrar uma solução
para o seu problema, mediante o trabalho de uma competente equipe de especialistas e tendo
como ponto de partida o estudo da causa – o que terá levado tal pessoa a cometer tal
ruindade? Para cada caso haveria um tratamento adequado.

Em vez de punir, tentar curar. Difícil sim, muito difícil, porém pode algum dia ser mais que
um sonho. Nesse dia o mundo ficará muito melhor.

A. A. de Assis
Foto – Rerpdoução

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