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O filósofo Kant e a condição de menoridade que nos domina

O filósofo Immanuel Kant destacou num de seus textos clássicos que grande grande parte das pessoas escolhe viver numa condição que ele chama de menoridade. Menoridade seria um estado de certa pobreza intelectual, de pouco conhecimento, mas isso, fique claro, por decisões pessoais. Para o pensador alemão, como regra, as pessoas são um tanto covardes e preguiçosas. Preferem o conforto do desconhecimento ao exercício árduo da busca pelo saber.

Sair da condição de menoridade, segundo Kant, demanda uma atitude ativa de aprendizagem com os fatos e acontecimentos, com as ciências e com a própria experiência. Para isso, é fundamental buscar o conhecimento por si mesmo, confrontando os mais diversos tipos de saberes já produzidos ao longo da história da humanidade.

O filósofo Kant é um crítico, inclusive, da atitude que permeia o nosso hábito de entregar para outras pessoas a responsabilidade por mediar e nos trazer as informações prontas. Não significa que não se possa aprender com outras pessoas; mas que não se entregue aos outros o papel de tutor.

Contextualizando o pensamento de Kant para nossos dias, poderíamos dizer que essa condição de menoridade é experimentada por todas as pessoas que preferem, por exemplo, consumir informações prontas que circulam fácil pelo WhatsApp e pelas redes sociais. Negacionismo do saber científico, rejeição às vacinas, incapacidade de relacionar o atual momento econômico do país aos verdadeiros responsáveis pela crise são alguns dos efeitos mais nocivos da menoridade conceituada por Kant.

Aplicando a um contexto religioso, a condição de menoridade se dá quando preferimos apenas ouvir as homilias e/ou sermões prontos, mas nunca nos esforçamos para estudar a Bíblia, entender o contexto histórico, confrontar os textos e observar a coerência de uma passagem ou um verso com toda a narrativa bíblica.
Enfim, numa condição de menoridade, usamos textos bíblicos fora do contexto para justificar nossas próprias ideias. Numa condição de menoridade, reproduzimos um vídeo que recebemos pelo WhatsApp para sustentar determinado posicionamento político.

O filósofo Kant lamenta que, embora a natureza tenha nos dotado de capacidade para romper com a menoridade (somos livres para pensar, refletir, abstrair etc.), temos prazer em seguir por toda a vida menores. Nosso potencial para enxergar melhor e mais longe é bastante grande, porém, por comodismo, preferimos a informação mais fácil, que já vem mastigada e que apenas confirma a visão, por vezes, equivocada e distorcida da realidade.

Nunca tivemos tanta informação disponível, mas talvez nunca fomos tão ignorantes. Como afirma o sociólogo e filósofo francês Edgar Morin, somos uma sociedade de obesos anêmicos. Sofremos de superinformação e subinformação, excesso e escassez. E a condição de menoridade nos coloca numa condição cada vez pior, porque as demandas sociais, econômicas e culturais são cada vez maiores. Entretanto, por menoridade, nossas respostas para tantas demandas são equivocadas e temos cavado um buraco que acentua a injustiça, a desigualdade e tem provocado novos tipos de exclusão. Sem percebermos, estamos produzindo uma nova classe social, a dos inúteis.

Portanto, o desafio urgente que se coloca diante de cada pessoa hoje é: rompa com a menoridade!


Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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