Início Colunistas O que você já perdeu e ainda te faz sofrer?

O que você já perdeu e ainda te faz sofrer?

No final de 2021, o jogador de futebol Sérgio Aguero anunciou sua aposentadoria precoce. Ainda jogando em altíssimo nível, como atacante do Barcelona, Aguero teve que encerrar a carreira. Um problema no coração o impede de seguir jogando. Se ele insistir, pode morrer em campo.

Quando anunciou a aposentadoria, ele chorou muito. Não há nada que o atleta e a Medicina possam fazer. A aposentadoria é necessária.

Interromper um sonho por uma impossibilidade física é bastante doloroso. Há um sentimento de impotência.

Recordo que, meses atrás, minha mãe estava bastante abalada. Ela fez alguns exames e um deles indicou que a osteoporose está avançada. A dona Cleuza, que é muito ativa, precisa ser cuidadosa. Uma fratura pode representar um grave problema. Ela estava se sentindo impotente diante de um problema que a impede de fazer algumas coisas que ela sempre fez.

Quando conversávamos, ela falou: “é muito ruim saber que já não sou a mesma pessoa”.

Triste, né?

Mas sabe de uma coisa? Viver é perder. Todos nós deixamos coisas para trás.

Talvez um acidente tirou a visão, a possibilidade de enxergar… Ou colocou numa cadeira de rodas.

Talvez um divórcio, em que o outro escolheu a separação, mudou tudo o que a pessoa havia sonhado.

Talvez uma gravidez não planejada mudou tudo na vida de alguém. Recordo, por exemplo, de uma jovem mulher muito bem sucedida, carreira em ascensão. Aí aconteceu uma gravidez. Eram trigêmeos. Bênção demais! Mas, para dar o melhor para as crianças, a carreira ficou de lado.

Outra jovem teve uma criança que nasceu com paralisia cerebral. Ela era concursada, tinha um excelente salário. Mas, pela criança, não havia outra escolha: ficar em casa com o filho era o certo a fazer.

Poderia listar aqui uma série de outras situações. Mas é possível que você tenha aí a sua perda – algo que você deixou de viver por um acidente, uma impossibilidade ou uma escolha que alguém fez em seu lugar.

Essas perdas frequentemente causam ressentimento. E, por isso, podem fazer sofrer.

Se você é alguém que perdeu algo e o que você perdeu te causa dor, só existe uma alternativa para seguir em frente: é preciso se reconciliar com o sonho perdido.

Para ter uma boa vida, é necessário se libertar do “eu” perdido. O “eu” perdido talvez era de uma mulher casada; ser uma mulher casada era parte de sua identidade. O “eu” perdido talvez era de um empresário; hoje, tudo o que resta é alguém que vive de bicos, de pequenos serviços mal remunerados.

A perda de algo que parecia definir a própria identidade causa um enorme vazio existencial. Também altera a imagem que a pessoa tinha de si mesma.

Aceitar a possibilidade de um novo eu, de uma nova identidade vai demandar um trabalho psicológico, mas “este trabalho pode despertar uma nova forma de compreender as coisas”.

A pesquisadora Sonja Lyubomirsky lembra que “a vida nem sempre se processa do jeito que se quer”. Algumas coisas ficarão pelo caminho, porque não temos controle sobre tudo – nem mesmo sobre o que acontece com nossa saúde.

Como a pesquisadora afirma, às vezes, a vida nos desafia, nos deixa atordoados”. Porém, “até mesmo os acontecimentos traumáticos e angustiantes são de valor inestimável para o crescimento e desenvolvimento”.

Mas como conviver com a perda?

Primeiro passo, aceitação. Um acidente interrompeu seu sonho? A morte de uma pessoa querida? Uma falência? Não importa o que aconteceu. Importa como reagir ao que aconteceu. Não para seguir apegado ao que já não existe mais. Então, aceite. É preciso desapegar do passado.

Não se trata de esquecer. É importante inclusive remexer no passado para admitir a perda, mas reconhecer que uma parte de nós ficou no passado, mas que nada mais é possível ser feito. Trata-se de olhar para o passado, não para ficar ruminando, se lamentando… Trata-se de voltar ao passado para encerrar de vez um ciclo e começar outro.

Segundo passo, defina novas prioridades e vislumbre novos futuros. Uma nova história precisa ser escrita. É difícil? É. Mas é parte da vida. Perdas não acontecem só com você. Talvez o novo não seja tão glamouroso ou tão especial como aquilo que se perdeu, mas isso não significa que a felicidade é impossível.

A felicidade sempre é possível. Não existe apenas um jeito de viver. É preciso livrar-se da fantasia criada de que a vida boa era aquela que você tinha. Existem outras possibilidades. Acredite! Defina novas prioridades e construa um novo futuro.


Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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